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Luis Malaquias dos Anjos

1965 - 2020

Justo, livre e solícito, ele sempre estava disposto a transformar sonhos em realidade.

Luis nunca escreveu um livro, mas deixou claro que se um dia o fizesse, traria no título o amor pela Bahia, pela família e por suas raízes; era o que sempre dizia para a irmã. Ela, por sua vez, compreendeu que Luis não escrevera o livro porque a história dele está sempre em expansão, multiplicando-se no coração de cada um que foi tocado pela sua presença vibrante.

O arapiraquense amava a leitura como quem ama o sol, o vento, a vida...

Sempre citava Saramago e seu "Ensaio Sobre a Cegueira", por vezes, arriscava-se como um personagem para compreender melhor os motivos da vida.

Ainda pequeno, apegava-se ao jornal, era o último da casa a ler, pois se dedicava a todas as linhas, todas as colunas e anunciados, queria tempo para isso. Os livros eram a paixão que ele amava compartilhar; eram os presentes que dava para todos os seus amigos, sobrinhos e afilhados.
Afilhados, aliás, tinha muitos. Luis era o mais cotado para a posição de padrinho, pois assumia a postura paterna com todos ao seu redor, até mesmo entre seus irmãos mais velhos. Nunca foi pai, mas compensava isso sendo extremamente afetuoso até com quem não conhecia: apadrinhava meninos da periferia que gostavam de futebol. Chuteiras e uniformes eram os únicos presentes, além dos livros.

Incansavelmente otimista, nunca se deixava cair em paradigmas que não ajudassem a crescer. Mirando em um mundo melhor, chegou a cursar Direito na Universidade Federal de Alagoas, mas desistiu de exercer a profissão. Suportar injustiças com os outros, ver o peso das desigualdades e burocracias que impediam a liberdade, não eram para esse homem.

Para ele, a felicidade estava em ajudar, em comunicar, em ser o porta-voz de um bem-estar confortante.

A história da vida de Luis não caberia num livro, este texto sequer contempla o suficiente. Ela está viva, crescendo e fervilhando em todos que ele amou, em todos que tiveram o prazer de conhecê-lo. Será mais que lida, mais que contada: será vivida, no íntimo de cada um.

Luis nasceu em Arapiraca (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Luis, Margarete Malaquias. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ulisses Abílio, integrante do Projeto de Extensão da Universidade Federal de Alagoas, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de julho de 2020.