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Luísa Azevedo Oliveira

1938 - 2020

Uma artista na cozinha, era especialista em preparar "Bolo Grude", receita de sua autoria.

"Uma pessoa muito querida. Era como uma mãe para todos nós, tomava conta de toda a família", conta a sobrinha, Luciana.

É assim que Luísa será sempre lembrada. Protetora e zelosa, seu cuidado ia além da atenção e carinho: gostava de ajudar a quem precisasse. Hospitaleira, queria ver a casa cheia de familiares. Estava sempre animada, alegre, com seu jeitinho engraçado e repleta de histórias para contar.

Muito simpática, conhecia todo mundo e era reconhecida por onde andava. Vaidosa e sempre bem arrumada, gostava de pintar o cabelo e usar seus lindos vestidos. A feira do bairro era seu local de encontro: ia todos os dias! Ia para conversar e para comprar carne, inhame, macaxeira, mocotó, tempero, galinha, queijo, frutas, milho. Nunca voltava para casa de mãos vazias.

Fã de novelas, sua atriz favorita era a Eva Wilma. Emocionava-se com histórias tocantes, fossem elas tristes ou felizes e queria sempre descrever as cenas penosas e dramáticas. Pessoa sensível e humana, comovia-se até mesmo em velórios de pessoas desconhecidas, lamentando a triste perda.

Sua maior paixão era cozinhar. Suas receitas eram sempre extravagantes e tinham um sabor especial, recheado de amor, comprometimento e criatividade. Engenhosa, inventava pratos, dava palpites sobre novos ingredientes e indicava remédios caseiros para os enfermos.

"Se você quisesse ver a tia Luísa feliz, a pessoa mais feliz do mundo, bastava dizer: "Dona Luísa, que delícia essa comida. Pronto, ela já ganhava o dia! Amava elogios", relembra, com carinho, a sobrinha Luciana. "Eu era apaixonada pelas receitas dela, o pirão de peixe, a rabada, o caldo cabeça de galo, as receitas de bolos, principalmente o 'Bolo Grude', receita que só ela sabia fazer; fazia vários, três de uma vez, um para cada familiar, que ela sabia que gostava de comer. Sempre chamava a família para os encontros aos domingos e gostava de dar palpites de ingredientes quando assistia alguém cozinhando. Ela tinha esse jeitinho criativo, trabalhador, sempre inventando alguma coisa ou sugerindo um tempero a mais para combinar".

Desempenhava o papel de mãe com primazia. Cuidou dos três filhos, dos irmãos, de vizinhos do bairro e até de clientes, ajudando do negócio da família.

Mesmo com pouco estudo e com todas as dificuldades que enfrentou, fez do trabalho sua vida. Dedicada, Luísa ajudou os pais e administrou o "Barraca", bar da família em Campina Grande, local onde passava a maior parte do tempo, e que transformou, com amor, em um local marcante e histórico na região. Além do negócio, fez parceria com uma empresa local e dedicava mais algumas horas de seu trabalho para montar cardápios, criar receitas, vender e doar quentinhas. Com seu esforço, realizou o sonho de comprar sua casa própria e pôde investir no estudo dos filhos.

Mulher de muita fé, gostava de ir à missa, aos cultos e pregava a bondade como o maior dos ensinamentos. Um legado que será sempre lembrado, com as memórias divertidas e muita saudade.

Luísa nasceu em Florânia (RN) e faleceu em Campina Grande (PB), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Luísa, Luciana Jennyer Sampaio Alves. Este tributo foi apurado por Claiane Lamperth, editado por Felipe Bozelli, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 18 de setembro de 2021.