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Luiz Antônio Silva Maranhas Dias

1959 - 2021

Um contador de causos, que fez do Sítio Recreio o palco para muitas narrativas e modas de viola.

Luizinho, como era chamado, foi um homem que construiu memórias inesquecíveis junto aos seus; cujas histórias são até hoje contadas e rememoradas pelos amigos e pela família. Aproveitou intensamente sua infância, quando construiu laços estreitos com a Fazenda Garcia, de propriedade do seu avô Manoel Virgínio, onde passava as férias e de onde guardou as principais e mais felizes experiências vividas com seus irmãos, primos e amigos. Na década de 60, quando a caça ainda era permitida no Brasil, Luizinho reunia-se com as outras crianças e, com vários cães, saía em busca das aventuras da caçada. Mas o que encantava mesmo o Luiz menino era a “bagunça da preparação", como ele mesmo contava para as filhas.

Das vivências na Fazenda Garcia, Luizinho herdou o gosto pela roça e amor pelos animais, principalmente por cavalos. O seu chamava-se Rosadinho e ele amava montá-lo. Também nessas férias na casa do avô, o futebol era seu esporte: fazia parte do time da Fazenda, atuando na posição de zagueiro. Inúmeras eram as memórias que Luiz guardava da infância e sempre fazia questão de compartilhar com as filhas. Paula, a mais velha, é quem nos traz essas recordações do pai cheio de causos e histórias, que divertia a todos nos encontros de família.

Durante o período em que estudava na Faculdade de Direito de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Luizinho pendulava entre a Capital e Serra do Salitre, a cidade de sua infância. Paula conta que inicialmente era o amor aos avós que motivava Luizinho a sempre passar uns tempos por lá. Porém, mais tarde, outro amor estimulava as constantes viagens à terra das aventuras infantis; ele conheceu Maria Abadia; que veio a se tornar sua esposa e com quem teve as filhas Paula Virgínia e Ana Clara.

Luizinho foi empreendedor na cidade que escolheu para começar a vida. Inicialmente, abriu uma casa de ração. Quando esse primeiro empreendimento não deu mais certo, ele decidiu aplicar os conhecimentos adquiridos nos anos de estudo na capital e abriu seu próprio escritório de advocacia. Por muitos anos ele foi o único advogado do município. Foi também um dos fundadores do Rotary Club de Serra do Salitre.

Luiz Antônio fez nome na cidade onde iniciara a sua vida, o que permitiu que também tivesse uma atuação importante e duradoura — mais de trinta anos — na administração pública local. “Na prefeitura, e também fora dela, fazia atendimento à população carente, recebendo muitas vezes, sacos de café, galinhas, leitoas, e até uma cabra, no lugar dos honorários”, relata a filha Paula.

Já no final da década de 90, ele adquiriu um pedaço de terra, que chamou de Sítio Recreio. Depois da Fazenda Garcia, o Sítio era o lugar preferido de Luizinho, e foi lá que construiu um verdadeiro palco para reunir a família e os amigos. Luizinho gostava dos encontros. No Sítio, fez papel de arquiteto, de pedreiro, de decorador e construiu até um lago, além do seu próprio monjolo. Ergueu também uma capela, que era um dos seus sonhos, católico que era.

Era no Sítio Recreio que, ao longo dos anos, Luizinho reunia “a família e os amigos nas festas de São João para rezar o terço e depois comemorar com bastante comida, música e quadrilha”, revela Paula. Ela explica que seu pai sempre foi uma pessoa de muitos amigos. "Ele era alegre, muito conversador, engraçado, contador de causos, prestativo, solícito, humilde e muito carismático”. Dentre as qualidades, a hospitalidade era uma das principais. Adorava receber gente em casa e fazia questão de manter por perto as pessoas que amava. O sítio era sempre palco de churrasco, cerveja, moda de viola e muita alegria.

Luiz Antônio era um pai dedicado. Paula lembra dos muitos momentos em que o pai lhes ensinava os deveres de casa. E que era amante de História, principalmente a do Brasil. Para Paula e Ana Clara, Luizinho sempre será lembrado como “um pai exemplar, bondoso, gentil, generoso e daqueles que ‘luxava’ muito”. Suas filhas eram seu maior tesouro. Sua dedicação ao papel de pai era tão conhecida entre todos, que diziam que ele havia nascido para isso, já que dispensava essa atenção paternal também aos sobrinhos, amigos, genros e cunhado. Todos enxergavam nele essa figura que cuidava e que acolhia.

Luizinho esteve sempre presente na vida de cada pessoa com quem conviveu. Foi muito amado e nunca deixou de demonstrar amor aos seus familiares e amigos queridos.

Luiz nasceu em Patos de Minas (MG) e faleceu em Unaí (MG), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Luiz, Paula Virginia Côrtes Dias. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Bárbara Tenório, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 1 de outubro de 2021.