1923 - 2020
"Você está pegando a nuvem!", dizia quando passeava de carro com a filha ainda pequena.
"Por ser dentista e trabalhar em hospital, meu pai era o médico do prédio. Era chamado pra todo tipo de emergência e nunca deixou de atender ninguém.
Sempre foi uma pessoa dúbia, manso em algumas coisas e irritável em outras. Por ter tido uma vida difícil com a mãe, por vezes não soube lidar com os filhos, mas nunca nos deixou faltar nada. A vida foi ensinando-o a se tornar mais manso e, na sua época de avô, foi perfeito, não teve um neto que não o amasse.
Chegou a ser bisavô, e sentiu falta de fazer o que fazia com os netos... empinar pipa, andar de patins, de bicicleta, de patinete.
Sou grata por ter me ensinado a ser responsável, porque quando ele não podia resolver alguma coisa, logo dizia: 'Passei o problema pra você!'
Não me esqueço de um passeio que fizemos, quando eu ainda era criança, a um ponto bem alto da cidade. Ele me mandou colocar a mão pra fora da janela e falou 'Você está pegando a nuvem!', pra mim era como pegar algodão", conta a filha Eliane.
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"Na última vez que o vi, gostei muito de abraçá-lo e vê-lo. Sonhei com ele, depois que ele virou uma estrelinha. Fiquei feliz, porque ele me pediu um abraço", conta a bisneta Larissa.
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Luiz Carlos cantava e encantava. Aos finais de tarde, entoava Orlando Silva pela casa: “Tua imagem permanece imaculada / Em minha retina cansada / De chorar por teu amor”. A bisneta Julia jamais esquecerá os micro-momentos do dia a dia de Luiz Carlos, tirando o miolo de pão, lendo jornal, comendo sopa e vendo novela, eufemismos e hipérboles sempre presentes nas lindas histórias ou de seus olhos verde-oliva, brilhando ao ouvir Frank Sinatra. “As lágrimas são inerentes ao pensar nele. Mas assim também é o sorriso”, diz Julia, sua bisneta.
"Melhor avô do mundo, melhor tio, melhor amigo, cuidador de toda a família, não era médico e sim dentista, mas foi o médico de toda a vizinhança! Foi, durante a vida, se adaptando à modernidade, o que para muitos é difícil. Bisavô que deixou muita saudade! Exemplos, deixou muitos, grande contador de histórias. Para mim..... melhor pai e o meu maior amigo!", declara a filha Regina Lúcia.
Luiz nasceu em Minas Gerais e faleceu no Rio de Janeiro, aos 96 anos, vítima do novo coronavírus.
História revisada por Ticiana Werneck, a partir do testemunho enviado por familiares Eliane, Larissa, Júlia e Regina , em 17 de julho de 2020.