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Luiz Gonzaga dos Santos

1961 - 2020

Sorriso largo, de sonhos e fé maiores que ele. Pai amoroso e amado, fazia um delicioso bolo de fubá.

Seu Gonzaga era um homem muito sonhador. Veio de uma infância difícil, no interior do Paraná. Filho de um pernambucano guerreiro e uma doce Maria, que o deixou ainda criança. Foi criado na roça junto dos seus amados 11 irmãos e aprendeu o valor do trabalho muito cedo. Mas foi um sonho que o levou à sua cidade do coração: Carambeí (PR).

Mudou-se para trabalhar nas cooperativas e passou muitas necessidades antes de conseguir o emprego. Voltou para casa para buscar seu primeiro amor. Casou. Teve a primeira filha, Scheila. Depois de muitos perrengues, se estabeleceu junto da esposa numa casa boa, a custo de muito trabalho. Teve a segunda filha, Jéssica. Muito trabalhador, plantava verduras, colhia e as vendia em sua bicicleta pela pequena cidade, também criava porcos para vender e ainda seguia na cooperativa.

Teve o primeiro filho homem, Renato. Começou uma mercearia com a ajuda da esposa, de quem acabou se separando pouco depois. Para cuidar das crianças saiu do trabalho e continuou na sua mercearia. Queria a todo custo achar uma mãe para os pequenos, errou nas escolhas mais algumas vezes até finalmente acertar... Casou-se de novo e criou mais dois enteados.

Em meio a todas as questões pessoais, começou a fazer sorvete caseiro. Foi buscar informações e vendeu seu carro para comprar a primeira máquina. Fez sua clientela pelo interior e também amigos por onde passava. Tinha um coração enorme, sempre ajudou a todos que vinham até ele. Seu Gonzaga tinha muita fé e nunca desanimava de suas lutas. A mercearia virou bar. A casa virou um grande salão de baile, conhecido como Aerozaga, que todos na cidade conheciam.

Depois de problemas que surgiram entre ele e os filhos, deixou-os sob a responsabilidade da ex-companheira, com quem construiu uma amizade fraterna. As crianças ficaram com a mãe, mas seguiram trabalhando com ele na sorveteria. Assim, todos aprenderam o valor do trabalho, dos sonhos e da fé.

O clube fechou; virou igreja. A igreja fechou e o bar também. Com muito trabalho, a sorveteria seguiu prosperando. O filho mais novo se tornou um jovem batalhador e braço direito do pai. Os dois conseguiram, a muito custo, melhorar o maquinário e a qualidade dos produtos. O que ele mais gostava era de encher o carro de sorvetes e fazer suas rotas pelo interior, vendendo todo fim de semana. No inverno fazia um bolo de fubá maravilhoso, assava pão, e tudo que podia, e seguia suas vendas.

O segundo casamento, antes de acabar, trouxe de presente mais um filho de seu Gonzaga ao mundo, que a essa altura já era avô da primeira neta, Erika. Não demorou para que ele esbarrasse novamente no amor. Cristina foi a companheira dos últimos dez anos e juntos viveram plenos e felizes. Tiveram um filho, Luigi.

Viajou de avião pela primeira vez, reencontrou e reuniu os irmãos Barbosa. Ganhou mais três netos: João em homenagem ao pai, Luís em sua homenagem e Miguel, o mais novo. Finalmente tinha uma boa casa, um bom carro, uma empresa crescendo, uma família feliz.

Ele louvava a Deus em todos os momentos, contando histórias da Bíblia. Estava sempre alegre e era extremamente trabalhador. Amava seu quintal cheio de uvas, cana e maracujá. Amava e tinha orgulho de cada pedaço do que construiu com tanto amor.

Seu Gonzaga deixa um pouco de saudade em cada um que teve a sorte de conhecer o homem forte, batalhador e amoroso que ele foi. A vida nunca mais será a mesma sem aqueles olhos grandes, profundos e amorosos por perto. Sem aquele sorriso largo, as histórias e brincadeiras. Ele viverá para sempre em um sorvete gostoso, num belo pé de uva, em um delicioso bolo de fubá. O jeitão do seu Gonzaga segue com os que o amavam, e a saudade também.

Luiz nasceu em Wenceslau Braz (PR) e faleceu em Campo Largo (PR), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Luiz, Jessica Tatiane dos Santos. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 18 de março de 2021.