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Luiz Teixeira Santos

1953 - 2020

Nos costumes, ele foi um ultraliberal que viveu num veleiro. Nos hábitos, um triatleta com disciplina militar.

A aventura de Lulu, como era conhecido por todos, começa aos 14 anos, ao deixar o interior do Maranhão para ingressar numa grande editora no Rio de Janeiro. O primeiro emprego foi ponto de partida para a carreira de diretor de criação, com passagem por agências de publicidade de renome na capital fluminense e no Distrito Federal.

Aos 20 anos, ele foge com a namorada, para depois oficializar o compromisso por exigência da mãe da moça. Da união nasce a única filha, Ingrid.

Lulu era o tipo de pai amigão, com quem se podia conversar sobre qualquer tema, apresentar a turma toda e ainda pedir arrego nos momentos em que o barco perdia o prumo. Assunto, aliás, que ele dominava no sentido literal, pois viveu a bordo de um veleiro de 36 pés na Baía de Guanabara, o Acalanto.

Mas o que fazia dele um porto seguro para a filha era seu patrimônio intelectual, acumulado principalmente pela leitura, um hábito tão impresso na sua rotina como a prática de esportes. A mente brilhante de Lulu atuava em plena parceria com o corpo, em disciplina, agilidade e desafios. Imagine que ele se tornou um triatleta aos 50 anos, com direito até a medalha em campeonatos nacionais.

Pois, ação e inventividade marcam toda a trajetória do publicitário, que, após montar a própria agência e falir, decide viver perto da família, agora aportada no Ceará. “Ele precisava entender melhor suas origens e estrutura, pois tão cedo longe de casa e brilhando na carreira, não sobrou muito espaço para um diálogo familiar constante”, diz Ingrid, para concluir, na sequência: “Junto da família ficou até os últimos dias, em paz, acolhido e acalentado no ninho”.

Porém, antes de fincar os pés no nordeste, há uma passagem de Lulu, digna de nota, pelo centro-oeste do país. A filha conta, entre risos, que ele recebeu uma oferta de trabalho em Brasília, e disse que só aceitaria se a contratante transportasse seu veleiro do Rio para lá. Conclusão: o barco foi levado para o lago (artificial) Paranoá. “Mas não deu certo, é claro!”, ela revela.

Morando em Fortaleza, Lulu retoma o gosto pelo motociclismo, e se alia a um grupo de “estradeiros” em passeios exploratórios pelos arredores da cidade. Assim se ocupava nos finais de semana, e se tivesse uma companhia no "sissy bar", um tanto melhor.

O neto, João Pedro, se recorda do avô como um cavalheiro, do estilo que abria a porta para as mulheres. Já do período em que moraram juntos, a lembrança presente são os rolês de skate e parkour na sua companhia, além do incentivo constante para a prática de esportes. “Ele queria que eu me dedicasse a isso”, conta o neto, que retém a imagem de um homem sempre sorrindo, quando pensa no avô, e o registro de um conselho para a vida toda: nunca desistir.

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Narrava o clima e os treinos de corrida nos vídeos, sempre cheio de energia e com sorriso estampado no rosto.

Luiz era um ser iluminado, por isso era cheio de energia e sempre estampava um sorriso no rosto.

Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão, atuou em grandes agências no Rio de Janeiro, nas décadas de 70 e 80.

Era muito apaixonado por barcos, tanto que morou na Marina da Glória, quando trabalhou na capital fluminense. Já em outra capital, desta vez a federal, morou dentro do seu próprio veleiro, às margens do Lago Paranoá.

Gostava de barcos e motos. Mas o que movia mesmo o Luiz, eram os esportes, seja na terra ou na água. Em 2011, começou com as corridas de rua, depois veio o triatlo (natação, corrida e ciclismo). Sempre narrava o clima e os treinos em vídeos, que postava nas redes sociais, motivando a prática do esporte: “Bom dia, hoje em Fortaleza, sol nascendo e vamos treinar”, lembra o amigo Anderson. Colecionava vários troféus, mas quem sempre estava no pódio, era a saúde.

Amava repassar suas experiências para quem buscava os conhecimentos pessoais e profissionais, adquiridos ao longo de sua vida.

Luiz nasceu em Caxias (MA) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pelo amigo de Luiz, Ingrid Furtado e Anderson Monteiro. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Mariana Quartucci e Mateus Teixeira , revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2020.