1936 - 2020
Traduzia seu aconchegante amor em gestos e doces.
Lucilene, sobrinha de Luiza, escreveu a seguinte homenagem para a tia:
"Luiza... Dona Luiza... Tia Luizinha... Cearense radicada no Paraná, católica, devota do Sagrado Coração de Jesus. Perdeu a mãe muito jovem e, por este motivo, encarregou-se de cuidar e de ser a figura materna dos irmãos. Foi mãe de muitos outros, entre filhos biológicos, irmãos, netos. Nunca mediu esforços para estar com os seus. Por isso tornou-se o maior elo da família, a matriarca.
Tia Luizinha, a senhora era luz, um desses seres humanos em extinção, aquela que acolhia a todos, conhecidos ou não. Me recordo de a senhora contar do andarilho que o tio Antônio sempre ajudava. Mesmo após a partida do tio a senhora fez questão de continuar ajudando o andarilho, que queria uma camiseta do Corinthians. Foi a senhora quem pediu pras meninas providenciarem.
E como dizer do seu amor pelos animais? Não eram raras as vezes em que você dizia: 'Preciso voltar pra casa ver as minhas criações'. O bezerro Moleque, os pintinhos, as galinhas.
Não consigo me lembrar da vida sem a senhora, sem seus telefonemas com o aviso de que chegaria logo, que podíamos ir para a rodoviária esperá-la. E a festa quando a víamos acenando lá de dentro, sentada sempre nos primeiros bancos.
A vida foi muito dura, levou seu filho, seu esposo, mas nunca levou sua alegria. A senhora sempre dava um jeito de fazer a gente sorrir, mesmo nos dias mais cinzas.
Existem muitas formas de dizer 'Eu te amo'. A sua era através da comida. Como não lembrar do doce feito com o amendoim colhido no quintal e que a senhora mesmo havia plantado, e a cocada com o coco que a senhora mesmo ralou? Ao me entregar a 'minha parte', porque cada um tinha um pacotinho diferente, a senhora sempre se queixava, dizendo que não estava tão bom, que se quebrou no caminho. Saiba que os seus doces sempre foram os melhores que eu comi.
Lembro-me de, em alguma das inúmeras vezes que fui te deixar dentro do ônibus, de volta pra casa, te dei um beijo e disse que a amava. A senhora sorriu e soltou um 'Eu também'. Senti seu amor naquele sorriso.
Nunca conseguirei explicar a nossa conexão; talvez ela venha pelo fato de você ter escolhido meu nome. Afinal, Lucilene é muito a minha cara. Palavras não eram necessárias quando se tratava da nós, havia apenas um amor recíproco. Sempre tentei lhe ofertar o melhor de mim, espero ter conseguido.
Queria que soubesse que comprar tecido não será mais a mesma coisa. Eu, nem desconto sei pedir. A rodoviária perdeu a graça, a senhora não chegará mais. Relembrar as histórias também não vai ser como antes, pois você era a única que sabia contá-las, dos mais diversos acontecimentos, com uma leveza que poucos têm.
Ainda consigo ouvir sua voz me abençoando ao sair para o trabalho; ainda consigo ouvir sua risada na cozinha e na escada, dizendo que daqui uns dias não conseguiria mais subi-las; ainda consigo sentir seu abraço com 'batidinhas' nas costas; ainda consigo sentir seu amor, mesmo sem poder mais te tocar. Seus trejeitos, sua forma de falar, cada mínimo detalhe seu ficaram vivos na minha memória, assim como o seu amor estará em meu coração.
A senhora foi embora de repente, sem despedida, sem aviso prévio, e junto levou um pouco de cada um de nós. Nos ajude a superar sua partida! Ajude especialmente a mim, pois sozinha eu não estou conseguindo."
Luiza nasceu em Apuiares (CE) e faleceu em Ponta Grossa (PR), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Luiza, Lucilene Maria. Este tributo foi apurado por Viviane França, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Joaci Pereira Furtado e moderado por Rayane Urani em 20 de agosto de 2020.