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Maciel Vicente da Silva

1955 - 2020

Devoto de São Jorge, não ficava sem fazer a feijoada para homenagear o santo.

Policial aposentado, podia se dar ao prazer de cozinhar uma bela feijoada e reunir os amigos e familiares em volta da piscina para falar do Flamengo e contar suas muitas histórias de pescador; pois pescar, era uma suas paixões. Ele até formava grandes grupos de viagem, só para ir pescar.

Alegre, brincalhão e festeiro. Fazia questão de juntar, na sua casa, o maior número de pessoas possível para as festas de carnaval, e não apenas para as feijoadas e o futebol.

Um grande homem... apesar de viver em Iguaba, acabou partindo de Itajubá, em Minas Gerais.

Suas paixões eram: Flamengo, pescaria e sua Nilda, para quem escrevia poesias.

Maciel Vicente era um pescador honesto. Não inventava história de peixe gigante, não. Participava de torneios com as filhas. Mas seu negócio era reunir os amigos e a família na praia, montar a barraca de camping, abastecer o cooler de cerveja e virar a noite papeando. Esse ritual era tudo para ele.

Maciel Vicente era também um policial honesto. Depois de trabalhar como feirante, ajudante de obras e bancário, passou no concurso público ainda novo e se orgulhava muito da profissão e de nunca ter se envolvido em nada errado no caminho.

Maciel Vicente era um flamenguista absolutamente fanático, desses com toque de celular do hino do clube e com lugar cativo no Maracanã. E era apaixonado por carnaval. Todo ano, comprava máscaras, perucas, recebia todos com alegria em sua casa na região dos Lagos no Rio. E os reunia em torno da piscina para muito churrasco, cerveja e alegria.

Maciel Vicente era, antes de tudo, completamente apaixonado por sua mulher, Nilda. Ele a conheceu numa festa da casa da irmã mais velha da moça. Maciel tinha 18 anos, estava no Exército. Nilda tinha 20, era professora. A garota estava noiva. Mas, Maciel sabia que ela era sua menina. Tirou a aliança da mão de Nilda e decretou: "você vai se casar comigo, não com ele". E assim foi feito.

Eles se casaram no dia 20 de janeiro de 1979 — dia de São Sebastião. Todos os anos celebravam a data indo à procissão do santo e fazendo uma festa. Tiveram duas filhas, Alynne e Isabelle. Tiveram um neto, o Gabriel, e o segundo está a caminho, o Pedro.

Em 1985, Maciel escreveu uma, de muitas poesias, para a mulher amada:

"Ela disse que ia
E não voltava mais
Se isso acontecer
Não sei o que fazer
A chuva cai,
O sol não sai,
Você se vai, me ajude, Pai!
(...)
Sem ela, não sei viver
Sem ela, não quero viver
Sem ela, prefiro morrer"

Maciel e Nilda partiram, com dois dias de diferença, pela mesma doença.

Para ler a homenagem à esposa de Maciel, procure por Nilda Gouveia da Silva, neste Memorial.

Maciel nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Itajubá (MG), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Maciel, Lilia Gouvea de Lima. Este tributo foi apurado por Michelly Lelis, editado por Alessandra Capella Dias e Flávia Tavares, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de julho de 2020.