1963 - 2020
Um homem de fé, alegre e jovial que, além de defender os filhos, fazia todas as vontades deles.
Filho de Genilda e Manoel, era irmão de Gilson, José, Jeone, Josabete, Josenilda e Jobertine. Uma família unida, com irmãos preocupados uns com os outros e ele, por ser o caçula, tinha a sorte de ser defendido por todos. Teve uma saudável e boa infância no sítio, junto também dos primos que moravam perto. Andavam a cavalo, pescavam e aproveitavam as festanças da época de São João e suas comidas gostosas.
Cecéu, como era chamado (o apelido remetia ao fato de ele ser o caçula), aprendeu a cozinhar com a mãe e, apesar de quase não dar o ar da graça na beira do fogão, encantava o paladar de todos quando preparava suas receitas de peixe e de pirão. Mesmo adulto, nunca deixou de respeitar irmãs e irmãos. E dois deles, que faleceram antes, ficaram guardados para sempre em seu coração.
Conheceu Maria Alcione no mercado, onde ela sempre fazia suas compras e ele insistia em convites para tomar uma cerveja. Maria recusava, pois era comprometida. Até que certa vez aceitou e nunca mais se desgrudaram. Após quatro anos de namoro, o festão de casamento foi numa fazenda e durou três dias, regado a um bom churrasco e setenta grades de cerveja.
Foram duas décadas de uma união serena. Marcelino acordava Maria Alcione diariamente com um beijo e dizia: “Bom dia, minha gatona!” Foi um marido carinhoso e fiel, que junto à sua amada trouxe ao mundo Maria Eduarda (Duda) e Breno. Quando discutiam, ele era o primeiro a se desculpar.
Marcelino foi comerciante autônomo em diversos ramos: mercado, sorveteria, loja de colchões. A filha Duda relata a trajetória do pai: "Ele foi dono de mercado por vinte anos e, enquanto solteiro, tinha ajuda de seu pai no trabalho. Depois de casado, era sua esposa quem o ajudava. Meus pais, eu e meu irmão nos mudamos de cidade e então ele e minha mãe montaram uma loja de colchões, a qual mantiveram por oito anos e onde ele chegou a trabalhar como vendedor. Simultaneamente, meu pai começou a trabalhar como terceirizado, na fábrica de sorvete do padrinho do meu irmão. No entanto, começou a ficar pesada a dupla jornada e decidiram optar, iniciando em um novo ramo e montando a própria fábrica de sorvetes, onde, por fim, minha mãe seguiu tocando sozinha a empresa. A última função de painho foi como funcionário público."
Suas horas livres eram aproveitadas de diversas formas, inclusive com uma boa cervejinha! Gostava também de filmes de ação e lutas de MMA, e sempre chamava Duda para ver junto. "Painho sempre ia ao meu quarto dar um beijo e me chamar para ver algo com ele na televisão", relembra a filha mais velha com saudades de um tempo em que passavam as madrugadas de sábado assistindo aos campeonatos de UFC na TV enquanto todos já dormiam. Nos momentos de descanso, telefonava para a família; adorava conversar com as irmãs, sobrinhos e primos.
Pelo olhar de Duda, seu painho tinha um coração lindo. "Ele brigava e um minuto depois fazia as pazes. Painho chorava vendo aqueles programas de domingo, onde os apresentadores ajudam alguém que precisa. Fazia questão de passar tempo com a família, com as irmãs e sobrinhos. Para ele, estar reunido com a família era o mais importante. Sempre muito temente a Deus, domingo era o dia sagrado de ir às missas, comungava e tinha carinho imenso pelo Padre Cícero."
Cultivou amigos verdadeiros, sempre com bom humor e com o coração puro. Apaixonado por festas desde jovem, Duda afirma que Marcelino não podia ouvir o som de uma latinha de cerveja sendo aberta que já corria para beber.
"Generoso como nunca vi igual, amava me surpreender. Chegava em casa frequentemente com algum doce ou brinquedo que eu gostava. Quando eu dizia que gostava de alguma comida, ele passava a semana inteira atendendo os meus desejos ou até eu enjoar", reparte as lembranças sua filha.
Um homem muito família, que fazia questão de sempre ir ao quarto de Duda para checar se estava tudo bem. Chamava a filha de "Pezinho Branco", pois encontrava-a na cama, toda enrolada e somente com os pés para fora do lençol. Sua relação com o filho Breno era de muita proteção. Saíam juntos e defendia Breno quando Maria ficava brava com ele. "Painho sempre fazia nossas vontades", lembra Duda com um saudoso sorriso.
Marcelino possuía um coração jovem e alegre e dizia que morreria assim, sem perder seu espírito de criança. Um homem de uma fé gigantesca e que mostrou aos filhos que seria um pai presente sempre, independente da situação. Duda diz que a falta que painho faz jamais será suprida e sente que uma parte dela se foi junto a ele. Finaliza o relato dizendo que o pai foi como um leão para defendê-la de todas as causas. "Obrigada, Painho!"
Marcelino nasceu em Bom Conselho (PE) e faleceu em Delmiro Gouveia (AL), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Marcelino, Maria Eduarda Neves Cavalcanti Guedes. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 27 de janeiro de 2022.