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Marcelo Rodrigues Amoreira

1966 - 2021

Filósofo por vocação, divulgou a arte, a cultura e o gosto pela leitura, reunindo toda a gente em sua tenda.

Marcelo era cultura em forma humana, e uma caixinha de surpresas que exalava a sabedoria que conquistou ao longo da vida, com sua coragem indescritível de lutar pelo que acreditava.

Professor de Filosofia de longa viagem, com mais de vinte anos de profissão, ensinava todos os dias com o mesmo amor com que iniciou sua caminhada, dando apoio aos que mais precisavam e estimulando sempre o pensamento crítico, a liberdade e o respeito.

Tinha o talento de ensinar: sua oratória fascinava a quem ouvia, era inteligente e bem articulado, e possuía um refinado senso de humor. Esbanjava criatividade para realizar eventos em prol da educação. Para juntar os amigos, alunos e ex-alunos, fazia saraus de poesia.

Criava Fóruns de Filosofia da Juventude e piqueniques filosóficos, nos quais conseguia motivar os jovens a discutirem temas contemporâneos e realizarem bons debates. Além disso, pertencia a um grupo de estudos literários chamado "Academia da Incerteza", no qual revelava seu talento também para a escrita, chegando a publicar, em parceria com o grupo, um livro intitulado "Melancolia".

"A família era seu chão e sua referência. Não conheço alguém tão apaixonado pela família como o Marcelo era. Nos chamava de "Croods" em alusão ao filme da Disney em que a família ficava grudada na caverna.", comenta sua esposa Regiana. Não deixava de fazer as viagens anuais em família e era um apaixonado por cinema. Amava ver filmes e séries com a família, e compartilhava de muitos livros que compunham sua própria história.

Pai atencioso, que amava assistir futebol ao lado do filho Gabriel. Churrasqueiro aos sábados, era muito elogiado por suas habilidades nessa missão. Era um exímio contador de histórias, e sempre tinha muitas na manga.

Apelidou sua casa de "Tenda", para que recebesse todas as tribos, e assim fazia: acolhia seus amigos, amigas e familiares sempre com abraços carinhosos e muita alegria.

Amava a natureza e cuidava do jardim de sua casa com muita dedicação. "Não podia ver um animal machucado que parava para ajudar, e assim era também com as árvores. Um dia viu uma árvore caída, foi em casa, pegou umas ferramentas e a replantou.", conta sua esposa Regiana.

Fundou em Fortaleza o clube de motociclismo Zapata - El Reduto, vinculado ao Zapata MC de São Paulo, que foi sua grande paixão nesses dois últimos anos. Amava sua moto e adorava os passeios que fazia com os “irmãos” do clube.

Sonhava em conhecer a Grécia, berço da Filosofia, e a longo prazo queria ir morar na serra de Guaramiranga com a esposa, quando já estivessem idosos. "Viveríamos cercados por plantas, livros e netos", diz a esposa Regiana.

Para Marcelo, a mesa era o lugar de juntar os amigos e a família e desfrutar de boa comida e bom papo. Era muito "bom de boca" e apreciava as cervejas artesanais que junto com a cajuína compunha a dupla de suas bebidas preferidas.

Sempre em favor da educação, "foi em uma Bienal com um grupo de amigos, todos vestidos de capas pretas e carregando um caixão vazio, para defender o tombamento de um cemitério tradicional de Fortaleza", conta sua esposa Regiana.

Marcelo deixou uma parte do que acreditava em cada projeto e em cada pessoa que cruzou o seu caminho e se permitiu ser arte.

A história de sua vida vai perpetuar por muitos anos e a Filosofia, que ele tanto amou, ganhou novos admiradores por meio do trabalho dele aqui na Terra.

Marcelo nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Marcelo, Regiana Nepomuceno Rocha. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Aléxia Caroline, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 9 de julho de 2021.