1945 - 2020
Explorador, viajante, amante do ouvir e do falar. Ao viajar, não deixava ninguém da família sem souvenirs.
Marcelo era o homem que ouvia aqueles que ninguém mais queria ouvir: de velhinhos com Alzheimer aos bêbados chatos de festa. Achava que coisas interessantes sempre saíam de personagens deixados de lado.
Visitou os pontos turísticos de vários países — e não foram poucos —, mas também colocava grandes redes de supermercado na lista de lugares para conhecer: “O Carrefour de Paris é bem diferente do Carrefour de São Paulo! Os tomates daqui também são diferentes, você precisa ver!”, observava.
Tentou e não conseguiu, por três vezes, visitar Machu Picchu. Na quarta vez conseguiu e, ao voltar, não deixou de trazer um vinho típico para compor a coleção que tinha.
Sentia a vida pulsar ao trazer de volta, para a pequena Poços de Caldas, as aventuras vividas com povos tão diferentes por este mundão.
Grande fã de Clube da Esquina, o pai foi quem formou culturalmente o primogênito, Alexandre Bueno. Marcelo ouvia Mercedes Sosa, gostava de artistas muito diferentes da América do Sul, como o Víctor Jara... cantores que quase ninguém se lembrava muito.
O futebol ocupava um lugar especial no peito dele. Se abalou muito quando o time do coração, o Cruzeiro Esporte Clube, foi rebaixado. Mas nada que boas memórias de vitórias da Raposa não diluíssem.
E nem só música, vinhos e o Cruzeiro amou Marcelo. Em cada novo canto que pisava, levava em pensamento a namorada, as duas ex-mulheres e os quatro filhos. "Você foi herói para todo mundo", elogia Alexandre.
Marcelo nasceu em Paraguaçu (MG) e faleceu em Poços de Caldas (MG), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Marcelo, Alexandre Pinheiro Bueno. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Jessica de Almeida, revisado por voluntário e moderado por Rayane Urani em 2 de junho de 2020.