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Márcio Batista Nogueira

1978 - 2021

Apaixonado por música e dono de uma coleção de milhares de CDs, ensinou à sobrinha tudo o que sabia.

Com seu jeito alegre, irreverente, bem humorado e até mesmo um pouco desbocado, sua presença era sempre marcante nas reuniões de família. Gostava de sentar-se na cabeceira da mesa, onde podia conversar com todos. Com voz marcante e risada alta, expressava suas opiniões firmes e sua visão crítica ao sistema.

Sempre foi muito articulado e expansivo, dono do dom da fala e da escrita. Assim, a escolha da profissão foi natural, e Márcio se tornou jornalista. Por anos, sua voz pôde ser ouvida na Rádio Metropolitana de Mogi das Cruzes.

Casado com Ivete, tiveram três filhos. Primeiro veio Clara, filha biológica, e anos depois realizou o sonho da adoção, e Pyetro e Rodrigo passaram a fazer parte da família. Numa triste coincidência do destino, as novas certidões de nascimento dos meninos, constando o nome de Márcio e Ivete, uma etapa importante na concretização desse sonho, ficaram prontas poucos dias após sua partida.

Foi também um filho e irmão muito presente. A irmã Andrea lembra de Márcio como seu parceiro de infinitas brincadeiras desde a infância. Quando Vitória, filha de Andrea, era pequena, passava os dias na casa dos avós. Márcio ainda morava com os pais. Desse período, nasceu uma grande cumplicidade e parceria entre os dois, tendo a música como assunto principal. A música, aliás, era sua grande paixão. Fã de MPB e de canções internacionais, suas cantoras preferidas eram Gal Costa e Cindy Lauper. Tinha uma grande coleção de CDs.

Para Vitória, Márcio foi muito mais que um tio. Ela escreveu uma linda homenagem a ele:
"Tenho a sensação de que isso não aconteceu, de que você não nos deixou tão cedo e que se eu te mandar mensagem pra falar de música, você vai responder. Sua ausência é muito grande. Você era uma pessoa tão expansiva, cheia de luz e de alegria. Tenho certeza que nossas reuniões familiares não serão as mesmas nunca mais. Mas maior do que a sua ausência é a felicidade por ter tido você na minha vida. Tive você como tio, como amigo, como quase pai, como irmão. Como alguém que me mostrou músicas, que brincava comigo mesmo quando eu já era velha demais pra isso, como alguém que me trouxe felicidade infinita. E isso não existe dor que supere. Vou sentir muita falta da sua voz de jornalista articulado. Da sua risada alta nos almoços. De você me mandando mensagem pra falar de música. Quase ouço sua voz falando comigo quando penso em algo que me lembra você. Espero ter sua voz comigo sempre. Te amo para sempre e obrigada por ter dado beleza à minha vida.”

Poucos dias após o falecimento de Márcio, seu irmão André também faleceu. Serão como estrelinhas a guiarem os passos daqueles que amavam. Mais do que um vírus, a família acredita que foram vítimas daqueles que, durante a pandemia, fizeram piada da ciência.

Vitória dedicou a Márcio um trecho da música “Lágrimas Negras”, da Gal Costa:
“Belezas são coisas acesas por dentro.
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento”.

Márcio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Poá (SP), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Márcio, Andrea Dinorah Nogueira. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Marília Ohlson, revisado por Elias Lascoski e moderado por Rayane Urani em 19 de novembro de 2021.