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Márcio de Souza Mendonça

1960 - 2021

Gostava de relembrar os caminhos que percorria quando criança, em meio à natureza.

Márcio tinha uma personalidade forte, afetuosa, e as suas conversas eram cheias de significado. Gostava de conversar sobre tudo, principalmente quando o assunto era o Santos Futebol Clube: não perdia nenhum jogo do seu time do coração. A sua paixão pelo futebol era tanta que uma das suas diversões era jogar pelo time da cidade em que morava: o Realmatismo. Foi católico de corpo e alma, e estava sempre presente nas missas de sábado.

Viajar era o que ele mais gostava de fazer, e se planejava com alegria para conhecer vários lugares, acompanhado da esposa. Alguns dos seus passeios foram inesquecíveis, mas o que mais ficou guardado na memória foi a primeira vez em que foram a praia, em Guaratuba, no Paraná, com as filhas ainda pequenas.

Foi através do seu trabalho que ele ficou conhecido por toda a cidade; "Márcio da relojoaria" e "o Mendonça da Orient" era a maneira que as pessoas queridas se referiam a ele. Aline, filha de Márcio, relembra: "A vida toda trabalhou como Técnico Óptico. Antes disso, serviu o Tiro de Guerra e trabalhava em uma lanchonete, ainda jovem. Mas depois começou como Técnico Óptico e nunca mais parou."

Foi o pilar da sua família, e o seu amor por todos era lindo de se ver. Sua irmã, Fernanda, era o xodó de Márcio: sempre se divertia quando a levava para os seus passeios de carro. Além de ter sido um irmão maravilhoso, também foi um avô orgulhoso de seus netinhos: Maria Clara, Bento Emanuel, Juan Miguel e Rafi. Apaixonado por cada um deles, fazia questão de ensinar, contar histórias, brincar, passear e comprar doces para os pequenos. Maria Clara, a mais apegada, ficava radiante quando o avô a levava para dormir com ele.

Márcio sempre estará presente em sua família através das filhas, já que ambas herdaram características memoráveis do pai. Camila é cautelosa, calma, serena e, assim como o pai, é antenada a tudo e sabe conversar. Era ela quem o ajudava nas contas e os dois formavam uma dupla imbatível quando o assunto era compras pela internet. Já Aline herdou o lado brincalhão do pai: gostavam de tirar sarro um do outro. "Meu pai me deixou viver, sabe, e toda vez ele dizia que se não desse certo, a porta de casa estaria aberta. Então eu não tinha medo de fazer nada. Ele era meu pilar, meu refúgio mesmo", Aline relembra, com carinho.

Uma das características de Márcio era o incentivo à família; "tem que tentar" era o que ele dizia quando alguma pessoa querida precisava do seu apoio. Foi através da motivação dele que Nilsa, sua esposa, tirou a carteira de habilitação. Os dois viveram, durante 36 anos, um amor lindo e cheio de respeito. Gostavam de fazer tudo juntos e sempre pediam a opinião do outro quando iam fazer algo: no clube, enquanto ele jogava futebol, ela participava do vôlei, e as filhas se divertiam na piscina. Márcio e Nilsa mantinham uma relação de companheirismo, sem brigas, e eram o pilar emocional um do outro.

Márcio foi um homem alegre, afetuoso e positivo: segundo ele, tudo tinha uma solução e, se não tivesse, ele fazia ter.

Mensagem afetuosa de Aline: "Meu pai deixou um legado. Ensinou a amar, a respeitar, a dar valor nas pequenas coisas. Ensinou que não devemos ficar bravos ou se estressar à toa, afinal, a vida passa como um trem bala. Tudo que sei, tudo que sou, devo a ele. Obrigada pai. Graças a Deus sempre te agradeci em vida, e serei grata eternamente. Graças a Deus eu dizia que te amava, e te amarei eternamente. Graças a Deus eu te abraçava, e bem no fundo do meu coração, continuo te abraçando porque você vive em mim!"

Mensagem afetuosa de Camila, filha de Márcio:

“Santista sorridente, adorava ter a família e os amigos perto, um pai atencioso e cuidadoso; irmão exemplar, cuidou desde muito cedo da irmã atípica com síndrome de down e mesmo com dificuldades, nunca deixou faltar nada a sua família. Um avô, ahhhh um avô com açúcar, a alegria dele era esses netinhos pela casa.

No grupo da família sempre era o primeiro a mandar Bom dia para as filhas, sempre avisando dos concursos da vida, um Pai sempre disposto a ajudar, sem pensar duas vezes se tinha ou não condições!

Jogava futebol no Realmatismo com os amigos, e se machucou algumas vezes, incluindo cirurgia no joelho, mas não tinha tempo ruim e logo voltou a jogar. Levantava de madrugada para estar com os amigos do Raio de Sol.
Adorava viajar, o sonho era comprar um trailer e sair sem rumo, passeando. Passou por muitas aventuras e amava contar e recontá-las; foi de ônibus do Paraná à Salvador, andou até de trenó no Rio Grande do Sul. E assim partiu para sua última viagem! De repente, tudo virou lembranças!”

Márcio nasceu em Cornelio Procopio (PR) e faleceu em Cornelio Procopio (PR), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Márcio, Aline de Aguiar Mendonça. Este tributo foi apurado por Mariana Ferraz, editado por Mariana Ferraz, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 21 de fevereiro de 2022.