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Marcos Vinicius Monteiro Lacerda

1971 - 2020

Seu grande sonho era montar na motocicleta com a esposa e viajar sem dia para voltar.

Reunir a família em torno de um bom churrasco ou sair com a esposa Silvana para jantar fora era o que Marcos Vinicius chamava de “bem bolado” – e acontecia sempre às sextas-feiras. Era a maneira que encontrava para vivenciar seu imenso afeto por eles. “Ele só queria ver a família bem”, conta a esposa.

Para ele, não tinha dia nem hora para churrasquear. Qualquer motivo era motivo para comemoração. "Preparava uma carne saborosíssima e fazia uma costela maravilhosa”, garante Silvana, contando ainda que o marido amava comer. “Tudo se resumia à reunião em volta da mesa. Feijão era o que ele comia primeiro. Dizia que, sem feijão, ele se sentia fraco. E sempre me elogiava pelo feijão que eu fazia.”

Desprovido de vaidade, Marcos Vinicius “preocupava-se mais em servir aos seus do que a ele mesmo”, prossegue ela. Era empenhado no trabalho de recuperação e evangelização de toxicodependentes, que socorria a qualquer hora do dia ou da noite, em crises de abstinência. Tanta dedicação à família – o que incluía Cacau, a cachorrinha do lar – e ao próximo, o fez negligente com a própria saúde, constata a companheira de quase vinte e cinco anos de união – data cuja celebração estavam planejando.

Foi um “profissional impecável, mas bem exigente”, assevera Silvana. Dono de uma empresa de informática especializada em sistemas para lojas, Marcus Vinicius “trabalhava demais”. Sem nunca temer os desafios, junto da esposa migrou da paranaense Umuarama para a mato-grossense Sinop, onde começou do zero, mas teve tempo de preparar o filho para assumir a direção dos negócios.

“Era justo e, nesse momento, às vezes um pouco duro”, conta ela. “Não gostava de coisa errada, não gostava de hipocrisia”, o que lhe valeram algumas críticas. “Mas ele não se importava com a opinião dos outros. Aquilo que precisava falar, falava. Por isso, às vezes era duro demais com alguns que trapaceavam. Era muito duro com líderes religiosos que não pregavam a verdade, a Palavra, a Boa Nova de forma genuína. Então, às vezes, era muito incompreendido.”

Num momento especialmente comovido de seu testemunho, Silvana conclui: “Ele era muito gente boa para estar aqui”. E lembra uma passagem bíblica: “Eles, de quem o mundo não era digno” (Hb 11: 38).

O grande sonho de Marcus Vinicius era, assim que todos os filhos se casassem, comprar uma moto – veículo que amava – e sair sem rumo, com Silvana na garupa, numa viagem sem data para terminar.

Marcos nasceu em Rancharia (SP) e faleceu em Sinop (MT), aos 48 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Marcos, Silvana Cristina Rezende da Silva Lacerda. Este tributo foi apurado por Yasmim da Silva Tabosa, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de janeiro de 2021.