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Maria Batista de Sousa

1958 - 2020

Com ela, não havia cara amuada. Ria de si, dos outros, da vida. Sabia o valor da alegria de estar viva.

Nascida e criada na zona rural de uma pequena cidade do interior do Ceará, Maria Batista de Sousa, a Nil, sempre gostou do verde.

Agricultora, aprendeu desde cedo a importância de se plantar sementes. As delas, sempre deram frutos.

Era assim no seu canteiro de hortaliças, de onde trazia o tempero para o almoço da família. Foi assim com os seis filhos, que teve com o tio Dete: Claudênia, Conceição, Cleonice, Edilane, Eliane e Orlando.

Deixou todos seguirem seus caminhos, criarem asas. Por isso, gostava tanto de passarinhos. Estava sempre em busca dos ninhos escondidos nas árvores, como se ainda fosse a menina de antes a brincar nas ruas da cidade. E era. Adorava colocar apelidos nos parentes e nunca perdia a oportunidade de rir. Com ela, não havia cara amuada, pois o riso era frouxo. Ria de si, dos outros, da vida. Sabia o valor da alegria de estar viva.

Às vezes, apanhava castanhas de caju no terraço para vender. Outras, aproveitava a tarde com um pedaço de pamonha quentinha na mão e um copo de café na outra. Um convite quase irrecusável para uma prosa com a visita sortuda que aparecesse.

Nem mesmo a doença estranha tirou seu otimismo. Foi com um sorriso que se despediu da sobrinha Jaqueline, ao entrar no carro para o hospital. Se aquele era o fim do caminho, sabia que tinha se divertido até ali.

Maria nasceu em Trairi (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Maria, Jaqueline. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Francisco Maxshwell dos Santos de Oliveira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de julho de 2020.