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Maria da Conceição Cunha

1937 - 2020

Mãe de 13 e avó de 43, amava bonecas e fazia o melhor cuscuz do mundo.

Costureira por profissão, Maria Cunha era uma mulher muito católica. Nas horas vagas, gostava de reunir a família e ir à igreja.

As maiores paixões de sua vida eram os 13 filhos (Cis, Nelita, Genival, Lucio, Hélio, Dachaga, Bené, Manoel, Aurilene, Socorro, Aurivam, Nelian e Sebastião Filho) e os 43 netos.

Viúva, casou-se com Sebastião aos 18 anos e com ele foram 54 anos. Ele foi o grande amor de sua vida e faleceu em 2009.

A maior virtude de Maria era o acolhimento: sempre acolheu a todos, fossem sobrinhos, filhos ou netos. Para quem precisasse ela estava lá para ajudar e fazer um cuscuz – o de Maria era o melhor do mundo.

Foi uma nordestina pequenininha e arretada de Tianguá, guerreira mas muito amorosa e acolhedora. Como muitos cearenses, era naturalmente engraçada. Criou os 13 filhos sozinha, já que o marido era bastante ausente. Mesmo passando por inúmeras dificuldades, nunca desistiu de lutar.

Falava que seu maior orgulho era que, mesmo eles sendo muito pobres, nenhum filho se envolveu com coisa errada, como ela dizia, e todos sempre foram unidos.

Foi para Brasília com as filhas mais novas pequenas, com a cara e a coragem. Na cidade, acolheu muitos familiares, que começaram suas vidas na casa de Marinha Cunha. Era a matriarca.

O Natal sempre foi em sua casa, assim como as melhores reuniões de domingo. Todo dia fazia comida para bastante gente porque era costume a casa estar sempre cheia. E como não haveria de estar?

Amava bonecas, cuidava muito bem das que ganhava, trocava de roupa, penteava e até dava carinho. "Era a coisa mais linda de se ver", diz Isadorá, neta de Maria. Era fã do falecido padre Léo, da Canção Nova.

Com a velhice, foi se tornando criança de novo. Teve demência vascular e não lembrava mais das pessoas direito, mas seu coração nunca se esqueceu de ninguém porque era carinhosa com todos, mesmo sem saber ao certo de quem se tratava.

Sobre a avó Maria Cunha, Isadorá conta ainda:

Ela me criou e foi muito difícil casar e sair da casa dela. Tive que fazer isso enquanto a levaram para uma viagem, para nem ela nem eu sofrermos tanto, como se isso fosse possível.

Tinha esperança de que ela não se lembrasse que eu morava lá, até porque a casa vivia cheia, pensei que nem tivesse como ela lembrar, mas todo fim de semana religiosamente eu a visitava e, na hora de ir embora, todas as vezes ela ia comigo até o carro, mandava beijo, pedia pra descer o vidro, não saía até eu virar a esquina.

Ela era nossa princesa, tão carinhosa! Não precisava reconhecer a pessoa pra retribuir carinho. A última lembrança não foi uma palavra, pois ela não tinha mais lucidez, e sim o olhar à procura das filhas, minhas tias, que cuidaram dela, filhas que viraram mães, que faziam ela se sentir segura, Aurivam e Nelian.

Ela me criou junto com a minha mãe e sempre foi minha cúmplice. Ela gostaria de ser lembrada como a vó e mãe maravilhosa que ela foi.

Maria nasceu em Tianguá (CE) e faleceu em Brasília (DF), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Isadorá Sá. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Raiane Cardoso, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 5 de março de 2021.