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Maria de Lourdes da Silva

1947 - 2020

O mar, o samba e os vestidos floridos eram as paixões da mulher iluminada, que jamais negou socorro ao próximo.

Maria de Lourdes não abraçou o espiritismo apenas com os braços físicos, acolheu a doutrina de Kardec, de forma real e verdadeira, com toda sua alma e coração. Vivia a máxima "A caridade não está só na esmola, pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. É caridoso por pensamentos aquele que é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso por palavras, o que nada diz que possa prejudicar seu próximo; caridoso por ações, quem assiste seu próximo na medida de suas forças" em sua plenitude.

"Mulher de personalidade forte, quem a conheceu aprendeu a amá-la e admirá-la. Paraibana, pulso firme da casa, uma mulher inesquecível! Deixou sua terra natal ainda jovem para viver um grande amor com Francisco das Chagas. Ao seu lado vivera muitos momentos de alegria, amor, expectativas, dor e esperança, foi também com ele que escolhera e acolhera Rodrigo como seu filho", lembra com saudades a amiga Adriana.

A aprendizagem da leitura e escrita formal veio já na fase adulta; mas Maria de Lourdes sabia ler o ser humano, de forma tão profunda que não podia ignorar o sofrimento de um irmão, fosse próximo ou distante. E a leitura das palavras veio agregar à vida dessa mulher iluminada ainda mais valor afetivo. Amava ler, sobretudo as obras de cunho espiritual.

A fé professada por ela não se baseava apenas em teoria ou em palavras vazias repetidas em oração. Maria de Lourdes vivia a sua fé por meio do socorro aos necessitados, por meio do gesto concreto de bondade, distribuindo sopa aos que sentem fome de alimento físico e visitando casas de repouso para levar aos idosos o alimento da alma: atenção, carinho e amor.

Adriana conta também que "Ela gostava de roupas floridas e alegres, amava o mar, o samba e viver aventuras! Nunca esquecera sua família na Paraíba, a quem, sempre que podia, ia visitar". Maria de Lourdes recebeu do universo o reconhecimento por sua existência pautada no bem: recebeu da vida uma nova chance através de um transplante de fígado. E valorizou essa benesse, honrando sua missão na Terra.

"Deixou este mundo poucos dias após a partida de Francisco das Chagas, seu esposo, também vítima da Covid-19. Acreditava que a vinda dos homens e mulheres à Terra era uma passagem, uma oportunidade de crescimento espiritual, e foi o que tentou fazer, até o fim! Seu espírito, desencarnou, como ela mesma diria, com a certeza de que não era o fim, mas o começo ou, quem sabe, um recomeço, de uma nova oportunidade", relata a amiga querida.

"Foram muitas lembranças... Seu esposo e meu pai moraram juntos e eram muito amigos; estávamos sempre juntos, nas festas de aniversário, nas datas festivas. Uma bela lembrança que tenho ao seu lado foram os dias em que ela cuidou, com todo carinho e desvelo, de mim e de minha irmã. Minha mãe teve que se ausentar por ocasião do falecimento de minha avó e nos deixou aos cuidados de Maria de Lourdes. Por ocasião de suas doenças, sempre recorria à mamãe, que por muitas vezes ficou com ela no hospital; desta vez não foi possível, infelizmente. Lembro que quando meu pai adoeceu foi ela que nos acudiu emocionalmente no hospital".

Maria de Lourdes merece ser lembrada por sua grandeza de alma, revelada na caridade; por sua alegria, revelada em seu amor pelo samba; em seu espírito de aventura, revelado por sua personalidade destemida ao viajar do Ceará até a Paraíba de moto. Essa estrela de luz paraibana agora enfeita o céu com sua aura florida, assim como eram floridos os vestidos que ela tanto amava usar para se sentir mais bonita.

Para ler a história do esposo de Maria de Lourdes, também vítima do novo coronavírus, busque por Francisco das Chagas Silva neste Memorial.

Maria nasceu em Caaporã (PB) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela amiga de Maria, Adriana Mota de Oliveira Sidou. Este tributo foi apurado por Ana Macarini, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Phydia de Athayde em 4 de dezembro de 2020.