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Maria do Livramento da Silva

1964 - 2020

Cumadinha, você foi tomar um cafezinho aí no céu?

Maria, a Cumade ou Cumadinha, como era chamada por Liz, nossa narradora, foi uma pessoa de caráter muito especial. Morava com o pai, que era muito doente, e seria capaz de dar sua vida por ele. Mas quis o destino que ela se fosse antes dele, que não demorou a segui-la no descanso eterno.

Maria chegou à casa de Liz para ser babá de sua irmã mais nova, mas com o tempo "ela se tornou como uma segunda mãe para mim". Maria era muito responsável e prestativa, e rapidamente se tornou amiga de todos da casa. "Foi ela que me ensinou a andar de bicicleta e cuidava da minha casa como se fosse a casa dela, limpando tudo direitinho." E cozinhava muito bem: "Fazia um baião de dois que eu morria de comer", conta Liz.

Quando Maria chegou, Liz tinha apenas 4 anos, então Maria, que também era bem jovem, com seus 13 ou 14 anos, se tornou a companheira de brincadeiras. Liz levava Maria para brincar na sua casa de bonecas. Daí nasceram os apelidos que duraram uma vida inteira: Cumade e Cumadinha. Liz preparava os cafés da tarde em sua casinha de boneca e a convidava para brincarem juntas: "Vamos, Cumadinha, tomar um café com biscoitos", narra, ao lembrar-se de sua fiel cuidadora. Essas brincadeiras se estenderam por muitos anos.

Maria era amiga de Liz nas conversas e passeios pelos jardins de casa. Quando ia às suas consultas médicas, "tinham conversas intermináveis". Era como uma amiga e uma dama de companhia. Liz relembra outros momentos: "Ela me acalmava nas diversas situações e sempre me dizia: 'Deixa pra lá, Liz, isso é besteira'. Mas quando tinha que me defender, também defendia".

"A casa ficou muito vazia sem Maria", conta Liz, que já teve sonhos com Maria depois que ela faleceu. O pai de Maria faleceu quatro dias depois de sua morte.

Maria nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela empregadora e pela prima de Maria, Liz de Sá Cavalcante e Raimunda Pereira da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sandra Maia Farias Vasconcelos, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 25 de setembro de 2020.