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Maria do Rosário Sousa

1949 - 2020

Com seu jeitinho simpático, para todo canto que ia, dona Rosa ganhava muitos filhos e netas.

A rosa é uma flor que conta com um número gigantesco de admiradores. Então, não é de se espantar que Maria do Rosário era chamada assim por muitos que a conheciam e admiravam. Para outros, ela era a Rosário ou mesmo Rosinha, mas era também mãe para Francisco, Rosyane e Rômulo.

O simbolismo da rosa não para por aí, assim como a rainha das flores, ela era puro amor em todas as suas formas, ela era o coração da família e dos amigos. "Para ela, não havia necessidade de conhecer bem a pessoa, ela se dispunha sempre a ajudar", conta a neta Ana Luiza. Apesar disso, não era muito afeita aos dengos, mas se fosse um bebê... Ah, aí ela pegava no colo, brincava e se derretia toda!

Com os netos, ela se fazia de durona e sempre dizia: “Quem pariu Mateus que balance”, mas sempre que os encontrava enchia de agrados, chegando a quase "estragá-los" com dengos e mimos também.

Rosa passou por muita coisa nessa vida, como a perda de dois de seus cinco filhos, mas seguiu em frente. "Ela nunca deixou de sorrir e nem que percebessem que estava triste; podia estar com a maior dor do mundo, nunca deixou de ajudar alguém que estivesse precisando", afirma Ana Luiza que complementa: "Ela era a pessoa mais importante pra mim, perdi minha mãe quando estava com apenas 6 anos e ela, sem pensar duas vezes, me pegou para criar. Ela foi mais que uma avó, ela foi a melhor mãe do mundo pra mim. Tudo que sou hoje foi ela quem me ensinou."

Além da neta, o afilhado Alexandre também era considerado e tratado como filho por dona Rosa. A mulher forte era inspiração para muita gente. "Não foi fácil cuidar sozinha de cinco filhos pequenos contando apenas com um salário mínimo após o divórcio, mas ela nunca precisou de outro homem em casa para colocar comida na mesa e educar sua prole: ela foi mãe e pai", diz a neta orgulhosa.

Com uma saúde de ferro, a septuagenária ainda fazia posições que nem todo jovem de 15 anos conseguiria; tanto que, nos seus últimos dias, deixou a família louca de preocupação ao subir no telhado para tapar um buraco que estava incomodando. É que ela não tinha paciência para esperar que outros fizessem o serviço: metia logo a mão na massa!

Das coisas que ela mais gostava, certamente as músicas do Padre Fábio de Melo e do Roberto Carlos estavam no topo da lista. Quando ela estava concentrada em algo, começava a cantar as músicas do rei. Também se divertia assistindo aos episódios antigos de "Os Trapalhões" e "Rambo". Tinha mania de fazer caça-palavras e quando se deparava com uma palavra desconhecida, logo pegava o dicionário para consultar o significado. "Fazia isso todos os dias!", relembra Ana Luiza.

A neta conta que sempre acordava depois da avó e, quando ia pedir a bênção, dar um abraço e um cheiro, era de praxe ouvir: "Esse santo quer rezar..."

Maria do Rosário trabalhou em um posto de saúde e era muito querida por lá. A neta ainda se lembra dos colegas de trabalho dizendo que a avó fazia tudo com muito amor e carinho. Na família também era uma unanimidade, todos gostavam dela. Deu aos filhos uma criação digna e ensinou que deveriam ser unidos. "Ela ligava diariamente para os que moram mais distante, estava sempre querendo saber como cada um estava."

Um de seus desejos era ser sepultada em Propriá, no interior do Sergipe, onde criou os filhos e, onde quando as pessoas morrem, "todo mundo fica sabendo", e assim foi feito. Seu maior sonho era ver todos formados e nas suas próprias casas. E ela conseguiu! Ajudou cada um dos filhos e netos até onde pôde e partiu deixando muita saudade, mas com o sonho realizado. "Só faltou eu, mas estou construindo e espero que, de onde ela estiver, esteja muito orgulhosa de mim, assim como sempre fui!", conclui Ana Luiza com um sorriso que reflete a imensa gratidão dela pela avó.

Maria nasceu em Caxias (MA) e faleceu em Estância (SE), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Ana Luiza Sousa Paiva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 16 de maio de 2021.