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Maria do Socorro Carlos Campos

1956 - 2020

Se o amor é a cola que une as pessoas, o da dona Socorro era Super Bonder.

Dona Maria do Socorro tinha uma neta que chamava de filha e um gato que chamava de Tubarão. Kellyda foi criada por ela desde os dez dias de vida, tanto que é chamada de “mãevó” pela neta. As duas são a melhor representação para a expressão unha e carne. O gato era outro xodó de dona Socorro, tanto que a última coisa que Kellyda ouviu dela foi pra não esquecer de dar a ração para o Tubarão.

Dona Socorro trabalhou em uma padaria e, muitas vezes, foi para o trabalho acompanhada pela “filhaneta”, então com cinco anos, que acordava religiosamente as 4h40 da manhã para cumprir essa missão. Se o aroma de pão recém saído do forno já é bom por si só, imagina quando ele ainda traz a a lembrança da pessoa que a gente mais ama neste mundo.

Dona Socorro não perdia um capítulo sequer das suas novelas. Também não perdia o show de final de ano com o Roberto Carlos, seu maior ídolo. Outra coisa que não costumava perder era acompanhar quieta o movimento da rua sentada em sua cadeira de balanço em frente da sua casa, ritual que repetia diariamente a partir das 16h30.

Costumava mostrar um sorriso bem tímido nas selfies que tirava junto a sua “filhaneta”, sorriso que foi se alargando à medida em que as selfies iam se sucedendo.

Tinha forte conexão também com o seu irmão Osvaldo, mais conhecido como Nem. Essa ainda mais impressionante por ter algo acima do natural. Quando Socorro sofreu um AVC e ficou paralisada um lado do corpo, Osvaldo foi diagnosticado com problemas no coração. Ela foi melhorando e ele, na sequência, também começou a se recuperar. Após a partida de dona Socorro, Nem ocupou o mesmo leito que ela e pelo mesmo motivo: Covid-19. Partiu depois de 20 dias para se encontrar com a irmã. E deixar saudades redobradas para quem conviveu com eles.

Maria nasceu Quixadá (CE) e faleceu Fortaleza (CE), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Kellyda Campos. Este texto foi apurado e escrito por Fabio Victoria, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 8 de dezembro de 2020.