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Maria dos Prazeres Soares de Azevedo

1961 - 2020

Predestinada essa moça, que honrou seu nome: “Maria dos Prazeres” fez da vida uma festa de alegria sem fim.

Jamais passou um Reveillon vestida de branco porque afirmava com categoria e certeza que essa cor lhe dava má sorte! No último Carnaval, essa recifense, que nunca negava um convite para a festa, acompanhou o bloco carnavalesco mais famoso do Recife, o Galo da Madrugada, fantasiada de pastora diabinha. O Natal era sempre em sua casa, onde Prazeres amava reunir a família. Mas a Festa de São João... Ahhhhh, essa era o ponto alto para ela, que era apaixonada por um bom forró e pelas comidas típicas que ela fazia como ninguém.

Para cada neto essa avó alegre, amorosa e irreverente tinha um apelido carinhoso. Felipe era “O Meu Mais Velho”. No dia em que esse menino nasceu, Prazeres não cabia em si de tanta felicidade. É que ela vivia dizendo que ia acabar morrendo sem conhecer os netos. Ainda bem que ela errou feio na previsão, porque acabou sendo abençoada por Deus com cinconetos que lhe davam muito trabalho, é verdade, mas davam muito mais alegrias. Depois de Felipe vieram Eduardo, “Meu Gostoso”; Marcos, “Meu Nego”; Emanuel, “Meu Mais Novo”; e Pamela, a única menina, que a avó chamava de “Minha Boneca”.

“Teve um casamento raiz!”, conta a filha Edvânia, uma união que durou 40 anos – literalmente “até que a morte os separou”. Prazeres e Antonio tiveram suas desavenças, mas permaneceram juntos e unidos criaram os três filhos: Edvando, que nunca ficava sem festa de aniversário porque nasceu justo no dia do Natal; Maria da Conceição, que, por ter nascido com a saúde frágil, foi a filha que demandou os maiores cuidados da mãe; e Edvania, a mais apegada à mãe. Eram as melhores amigas e confidentes.

Nunca ficou sem trabalhar. Fosse em casa de família, como auxiliar de serviços gerais ou fazendo faxinas esporádicas, Prazeres não ficava sem ocupação ou sem trazer um dinheirinho honrado para casa. E, onde quer que ela trabalhasse, não tinha patrões, fazia amigos com seu jeito espontâneo e, também, porque era muito dedicada e caprichosa com tudo que se propusesse a fazer.

O maior prazer dessa batalhadora era viajar. Adorava ir a Fortaleza visitar os parentes da família do marido, que eram mais sua própria família que de Antonio, tamanhos eram sua afinidade e apego com todos eles. Vivia dizendo que jamais viajaria de avião; mas, depois que voou pela primeira vez, pegou tanto gosto que não parou mais. Nem mesmo ela entendia ou sabia explicar por que adorava tanto voar.

Ficou encantada ao conhecer Canoa Quebrada e Jericoacoara. Vivia tirando fotos, fazendo pose com uma cervejinha na mão. “Adorava se amostrar para o grupo da família!”, lembra com alegria e saudade a filha Edvânia.
Hoje o grupo da família não tem mais a SUA MAIOR ESTRELA. No entanto, essa mulher extraordinária, tanto em força quanto em encanto, será para sempre lembrada com um sorriso por todos que tiveram o prazer de conhecer Maria dos Prazeres.

O céu nunca mais será o mesmo, com essa recifense serelepe por lá; há de ter muito forró, muita festa de Carnaval, muito Natal enfeitado e uma “anja” de roupa colorida e de batom vermelho para comemorar a virada do ano. Salve Maria dos Prazeres!

Maria nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Edvânia Maria Soares de Azevedo. Este tributo foi apurado por -, editado por Ana Macarini, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 1 de setembro de 2020.