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Maria Elisabeth Tavares Pintoni

1948 - 2021

Beth era o anjo da guarda dos bichinhos sem lar, a rainha do tutu de feijão e o amor da vida dos netos e filhos.

Beth como era chamada carinhosamente, ensinou muito sobre amor ao próximo, seja ele gente, ou bicho.

Primogênita de uma família com seis irmãos, era formada em Educação Física, amava a dança e os animais. Chegou a resgatar mais de uma centena de cachorros, gatos e pássaros, muitos desses, vítimas de maus tratos. Todos os resgates eram especiais, mas um em específico foi bem marcante.

Beth estava acompanhada do seu fiel recruta e filho Khalil quando foi avisada de uma gatinha com suas crias que foi abandonada em um terreno baldio de difícil acesso, totalmente inclinado. A pobre gatinha ficou muito assustada, e a missão parecia cada vez mais impossível. Beth e Khalil pegaram uma caixa plástica que revestiram com uma espécie de lona para que os bichinhos não escapassem, ao mesmo tempo em que ficassem protegidos. Colocaram comida dentro da caixa e foram necessários três dias entre idas e vindas, até que os gatinhos finalmente cedessem! No começo a mamãe gata ficou furiosa, mas depois deve ter sentido que a intenção era boa e que teria muito amor no novo lar; não demorou muito até que a gatinha se acostumar com Beth e a família. Dizem por aí que animais reconhecem gente do bem de longe. Pela reação da família de gatinhos, deve ser verdade.

Amava intensamente as pessoas, estava sempre preocupada com a felicidade daqueles com quem convivia. Era bondosa e querida por muitos que a reconheciam como uma mulher forte e amável.

Cozinhava como poucos, e não por acaso o neto Ahmad quando ficou por um tempo com a avó, se encantou com o tutu de feijão e o filé de frango empanado que só Beth sabia fazer. Conquistou ainda "muitas barrigas" além dessa, mas amava mesmo era cozinhar para os netos, que se deliciavam com os pratos da avó. Comida de avó sempre é mais gostosa, porque é feita com afeto.

Construiu um legado de amor e dedicação com os animais que muito honra qualquer um que goste dos bichos. Beth deixa dois filhos, quatro netos, dezesseis cachorros, dois gatos, alguns beija-flores, sabiás, canários e outros pássaros que buscavam comida e água todas as manhãs na sua varanda.

Sem Beth, não tem mais frango empanado ou tutu de feijão com seu tempero, e os bichinhos, que são tantos e tão barulhentos, parecem um pouco mais silenciosos e tristes. Mas a saudade é momentânea.

A profissional de Educação Física com alma de bióloga ou veterinária segue cuidando e amparando os seus do outro lado, com a certeza de que na hora certa o reencontro virá com muita bagunça boa, transbordando de amor.

Maria nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Bom Jesus dos Perdões (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Maria, Khalil Ez Zughayar Júnior. Este tributo foi apurado por Hélida Matta, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz , revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 31 de março de 2021.