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Maria Eneida Monteiro

1951 - 2020

Educadora, mãe e avó, ela era uma fortaleza.

A cearense Maria Eneida era ela mesma uma fortaleza. Nascida na capital, foi lá que construiu sua família — casou-se e teve quatro filhos. Na década de 1980, separou-se e se viu tendo que recomeçar. Lutou demais. Deu futuro para seus dois meninos e duas meninas.

Filharada crescida, Eneida foi cuidar de si. Começou a estudar Pedagogia. Especializou-se em educação para crianças com necessidades especiais. Passou em um concurso público e foi lecionar em Pacajus e Horizonte, duas cidades pequenas, próximas à Fortaleza. Montou uma casa lá e manteve outra em Fortaleza. Dividia-se entre suas crianças, nas escolas, e sua família.

Eneida amava crianças, principalmente as pequenas. Nascia um neto (ela tinha seis), e ela grudava, até ele ficar crescidinho.

Adorava também aniversários. Organizava os dos filhos, dos netos, dos amigos, da sogra da filha... Quando seu mais velho, Cláudio, fez 50 anos, Eneida fez uma decoração temática, do time do filho, o Ceará. Mal a celebração havia acabado, ela já estava pensando em qual tecido iria usar para enfeitar as mesas da próxima festa.

Todo dia 13 do mês, Eneida ia para Fortaleza, para assistir às missas de Nossa Senhora de Fátima. Assim, no plural. Ela chegava no santuário às cinco da manhã e lá ficava, até às oito da noite. Via todas. Eneida sempre disse que, quando morresse, queria ser enterrada com seus pais, Beatriz e Antônio, no jazigo da família, no cemitério São João Batista. Apesar das circunstâncias do sepultamento, em que só cinco familiares puderam se despedir, o desejo dela foi cumprido.

Maria nasceu em Fortaleza (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Maria, Cláudio Raulino. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Flávia Tavares, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.