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Maria Erandir Barreto Bastos

1958 - 2020

Devota de Nossa Senhora de Fátima e amante das músicas "Aquarela", de Toquinho, e "Amar como Jesus amou".

Dandir, como carinhosamente era chamada, já no ventre aprendeu a dividir com Eranildo, o Idim, pois eram irmãos gêmeos.

Morou por muitos anos em Canindé, com os pais e os 12 irmãos, onde o ensinamento da fé e da constante oração lhe foi ensinado. Viveu uma infância simples e cheia de lindas histórias. Erandizinha, como a chamava seu pai, era considerada uma menina esperta e muito resoluta desde a tenra infância.

Ainda jovem, passou morar em Fortaleza e, mesmo assim, fazia questão de passar as férias em companhia dos irmãos e primos, além de cuidar dos sobrinhos, que se alegravam com a chegada da tia Adir.

Adorava viajar! Em uma dessas viagens conheceu o seu grande amor, Gilberto, na Festa do Charme Arariense. Namoraram por carta durante três anos, casaram-se e foram morar em São Paulo, onde ela conheceu a sua nova família maranhense e cultivou boas histórias da convivência familiar amistosa e da vida paulista.

Após dois anos de casamento e já com a sua filha Vanessa, retornou a Fortaleza, onde teve mais dois filhos: Érika e Gilberto Filho. Formou-se em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará, mas sempre optou por dar preferência à família, ao casamento e aos filhos.

Dandir trabalhou por quase 15 anos no SESC, onde fez amizades para a vida inteira. Desenvolveu habilidades e talentos, inclusive por meio de dramatizações engraçadas – sua marca registrada na instituição. Também atuou na Unimed por quase 11 anos, onde desenvolveu um trabalho bastante reconhecido, que lhe rendeu amigos e homenagens.

"Trabalhava com amor e leveza, se realizava e se sentia útil e produtiva. Era reconhecida como a 'mãezona' por seus colegas de trabalho", conta o filho Leandro.

Também segundo Leandro, a mãe possuía uma fé incondicional, que a ajudava a viver as dores e as alegrias da vida, com orações incessantes. Passava o mês de maio, mês de Nossa Senhora, vestindo azul e branco, bem como todos os dias 13 dos demais meses. Não faltava aos terços em família e às missas dominicais.

Dandir viveu a dor e a saudade do filho Gilberto, que partiu prematuramente aos 2 anos de idade. Após o ocorrido, porém, recebeu um grande presente de Deus: mais um filho, Leandro, que chegou bem no Dia das Mães.

Ela participou intensamente de todas as fases da vida dos quatro filhos: ia a festinhas na infância, acompanhou shows na juventude, teve a alegria de ir às três formaturas, aos dois casamentos, assistir ao parto dos netos e estar presente ativamente em todas as festividades da família.

Não esquecia nenhum aniversário! "Parecia que tinha uma agenda na cabeça com todas as datas e fazia questão de saudar os aniversariantes com muita alegria", relembra Leandro.

Colecionava uma lista de apelidos carinhosos: Dandy, Piçoca, Sucesso, Su, Marilene Lima, Fernanda Montenegro, Baixinha, Erandas, Dandinha, Erandizinha, Mozinho, Mãezinha, Vovó Dandy...

Contagiava o ambiente com a sua voz rouca mas alta e em tom de canto. Nas festas, animava a sua querida mãezinha com a dança da música: "Me lembro quando criancinha / Minha mãezinha ralhava comigo / Dizia pra Dona Chiquinha: / Essa garotinha vai ser um perigo! / Corria para me bater / Eu a correr, ela a gritar: / Para, menina! Para! / Senão vais apanhar / Para, Adelaide! Para! / Senão vais apanhar [...]".

Leandro lista os sonhos realizados pela mãe: casas próprias, apartamento na praia, viagens, aposentadoria, cabelos longos, o primeiro carro zero, uma vida financeira equilibrada.

Também lista as suas frases prontas mais marcantes: "Volte que a sua terra é o Canindé", "Baixinha é o teu salário", "Mais tem Deus para me dar", "Vai dar certo", "Louvado seja Deus", "Deixa de novidade", "Deixe de confusão", "Reze que, se for da vontade de Deus, vai dar certo" e "Deus te abençoe".

Por fim, lista suas características: alegria, fé, bondade, caridade, humildade, autenticidade, resolutividade, proatividade, retidão, honestidade, coragem e determinação.

O filho recorda dela como "mãe exemplar, esposa companheira, avó presente". "Ela era também a tia, a cunhada, a amiga, a sogra e a nora que se fazia presente por meio de sua alegria e lembrança de todos", conta, e finaliza dizendo que as memórias de Dandir são tão vastas que seria impossível listá-las apenas nesse espaço.

Maria nasceu em Canindé (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Maria, Leandro Barreto Bastos. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Mariana Lopes, revisado por Paola Mariz e moderado por Phydia de Athayde em 1 de outubro de 2020.