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Maria Eunice Corcino da Silva

1963 - 2021

Paciente e amorosa, era a "modelo" preferida das netas nas sessões de maquiagem e penteado.

Apesar das "dores" que teve na vida, Maria Eunice conservou-se uma pessoa alegre, que gostava de dançar e cantar, revelando a poucos e bons a bonita voz que comumente escondia por conta da timidez.

Foi a pessoa mais guerreira, paciente, amorosa, gentil, humilde, de coração puro e empática que se pode imaginar. Dona de uma luz que transmitia só amor e alegria a quem vivia com ela. Quando passava por uma dificuldade ou necessidade, não se abatia: apegava-se na fé, entregando nas mãos de Deus a sua vida e a de sua família.

Ao longo de sua trajetória, venceu muitas batalhas e celebrou muitas conquistas. Uma das maiores e que lhe trouxe grande alegria foi, sem dúvida, assinar a compra e receber as chaves de seu apartamento próprio.

“Carinhosamente chamada de Dona Nice ou vovó Nice, era a nossa base, alicerce, nossa melhor amiga. Aquela mãezona mesmo, que demonstrava o seu amor quando ligava todos os dias para dar 'boa noite, Deus te abençoe' e dizer 'eu te amo!'. Os conselhos da Dona Nice eram certeiros, sempre com muita sabedoria. Aquela mãe que dava a vida por seus filhos”, relata a filha Rafaela.

Seu amor estendia-se aos netos de uma forma especial. Rafaela conta que os netos vão crescer com a memória da avó que deixava fazer penteados e maquiagens enquanto ela tirava um cochilo. Vão se lembrar das chamadas de atenção necessárias e depois do abraço quentinho da avó, que colocava apelido em todos os netos e esquecia o nome de todos, chamando um por um até acertar o nome. Vão se lembrar até do "nojo" que sentia por ratos...!

“Um dos momentos que ficará em nossa memória e, especialmente, na das netas dela, é do dia em que ela brincou de amarelinha na calçada de sua casa. Todos entraram na brincadeira, até as pessoas mais tímidas. E foi muito divertido. Depois disso, ela falou que teria que ficar um mês sem fazer muito exercício porque a coluna e o joelho estavam doendo”, relembra Rafaela com saudade.

Maria Eunice adorava ter a casa cheia, escutar músicas sertanejas — principalmente as mais antigas —, tomar uma cervejinha e jogar baralho no final de semana, rodeada dos filhos e netos. As risadas eram certas! Gostava de passear, comer pastel na feira e estar com quem amava. Se alguém fosse pedir pizza, não podia esquecer de pedir sua favorita: banana com canela.

Ao prestar esta homenagem, Rafaela afirma que poderia ficar dias falando da mãe, avó, sogra, irmã e esposa maravilhosa que Dona Nice foi e, em nome de todos, resume: "Tivemos o prazer e a honra de sermos filhos dela, de podermos demonstrar todo o nosso amor, de cuidar dela com todo amor que podíamos. Deus, por algum motivo, precisou dela, que agora, de onde estiver, vai olhar por nós e continuar cuidando de nós como nosso anjo protetor. Ela lutou bravamente enquanto pôde, ela resistiu até o último minuto, mas descansou. Ela vai ser nossa eterna mãezinha, nosso eterno legado. Se um dia conseguirmos ser um centésimo do que ela foi, seremos pessoas incríveis. Agora só podemos agradecer de joelhos e com muito amor por tudo que ela fez por nossa família e por todos que ela amava".

Honrando esse legado de amor, a família de Maria Eunice pensou em uma bela forma de homenageá-la e transformar a dor em solidariedade por meio de um projeto. Em 2021, quando ela completaria 58 anos, lançaram a campanha AmorTransformador. A meta era arrecadar 58 cestas básicas e conseguiram quase o dobro. Na segunda edição, em 2022, a meta era 59 e também foi dobrada!

Dessa forma, a família dá sequência ao que Dona Nice fazia, sempre ajudando a todos que precisavam, da maneira que lhe era possível.

"Temos a certeza de que ela estaria orgulhosa, pois estamos ajudando muitas famílias e fazendo com que a dor seja transformada em amor ao próximo", encerra a filha.

Maria nasceu em Brasília (DF) e faleceu em Santa Maria (DF), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Rafaela Corvelas e seus irmãos. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 15 de dezembro de 2023.