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Maria Helena da Silva Jesus

1948 - 2020

Dona Helena não carregava tristeza no olhar, apenas alegrias.

Ela não desperdiçava tempo. Acreditava que a vida era muito curta. Portanto, todo dia era dia de fazer o bem. Quando os amigos lhe pediam para que rezasse nas suas cabeças, para estancar dores, ela rezava. Quando alguém precisava de ajuda, Dona Helena estendia a mão. Queria ter certeza de que não faltasse a uma só pessoa um pouco de carinho e cuidado. Abraçou o mundo que coube entre seus braços. Era uma “figura fantástica”.

Iniciou os estudos aos sete anos, enquanto já ajudava os pais na roça. Tornou-se professora de Língua Portuguesa e caminhava cerca de 4km para chegar à escola. Ainda assim, era “a professora mais doce do mundo” e nutria grande afeto por cada um de seus alunos.

Dona Helena era católica e amava cantar no coral da igreja. Trazia consigo uma fé inabalável. Por vezes, quando dava algum conselho e percebia que a pessoa não a escutava, ela dizia: “Meu filho, deixe de ser cabeça-dura… filho de Jesus, pense em Deus!”

Desenvolveu vários trabalhos voluntários. Era conhecida por sua honestidade, humildade e generosidade. Gostava de cantar e de dançar escutando as músicas do Rei do Baião, Luiz Gonzaga.

Dona Helena era uma mulher cheia de ternura. Não media esforços para fazer sua família feliz. Foi mãe de Márcia Maria, José Evaldo, Eduardo e André, esposa de Gervázeo e avó de vários netinhos. Foi amada, talvez, na mesma proporção que amou - muito!

Para sobrinho Vanderlei, ela era “o tronco da comunidade” onde morava, sempre disposta a ajudar. No domingo antes de seu falecimento, Dona Helena conversou com ele e disse: “Fala pra minha comunidade que logo estarei voltando… não se preocupem comigo, tem anjos cuidando de mim aqui”.

Não voltou mais. O grupo de WhatsApp “Mãe da Misericórdia” já não recebe suas mensagens de bom dia. A comunidade ainda não consegue acreditar. Talvez a parte mais dolorosa tenha sido não poder dizer tchau a quem sempre foi tão presente.

Quando a saudade apertar, seu sobrinho se lembrará de tudo que ela foi e continuará sendo: “uma estrela viva” a iluminar seu caminho.

Maria nasceu em Nossa Senhora da Glória (SE) e faleceu em Lagarto (SE), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido Sobrinho de Maria, Vanderlei da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Jhennifer Laruska Leal Fraga, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.