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Maria Helena de Sousa

1931 - 2020

Quando parecia ter dado todo afeto possível, chegaram os netos para provar que era fonte inesgotável de amor.

"Era o amor em forma de gente." Assim Isabela define a avó Helena. Afinal, quem chegava em sua casa desacreditava: era tanto querer e tanta atenção aos detalhes! Uma entrega gratuita e genuína ao próximo. Um desejo intenso pelo bem estar do outro, sobretudo se fosse sua visita.

Como mãe de 13, Helena esbanjou carinho e cuidado com José, Maria, Lúcia, Edson, Francisco, Luiz, Sebastião, Vânia, Ivonete, Antenor, Juarez, Ivanice e Josimar. Quando parecia ter dado afeto o suficiente, chegaram os netos para provar que Helena era uma fonte inesgotável de amor.

Se iam para a esquina ou qualquer pequena lonjura que fosse, Helena ficava alerta pelo retorno deles, para atestar que chegaram bem e em segurança. Como avó, a preocupação era com tudo, mas tinha aquela atenção especial com a fome. Era quando entrava o “tome este troquinho para lanchar”, já bem esperado pelos netos, pois fazia parte da rotina de cuidados da 'vó' Helena. Ou, em dias de festa, quando a casa estava cheia, monitorava, com o olhar atento, para ter certeza de que todos estavam comendo de tudo.

Nos dias livres, Helena gostava de ir ao shopping para almoçar (yakisoba era seu prato favorito) e tomar sorvete. Aos oitenta e pouco, mantinha a alma jovem. Planejava viajar e reformar a casa. Não se acomodava. Amava viver porque tinha seus amores por perto. Era tão apaixonada pela vida que se foi no dia dos namorados.

Ao lado do marido, Antenor Patriota, Helena recebia quem mais quisesse para uma prosa na calçada. Momento que começava logo à tardinha e ia até à noite, quando a brisa era fresca e o assunto rendia.

Para Isabela, estar perto da avó era a melhor coisa que poderia acontecer. “Se alguém pudesse sentir um amor de avó igual eu senti, tenho certeza que o mundo seria melhor. Espero que ela sinta o meu abraço e o meu amor de onde estiver”, deseja, com saudades e gratidão, Isabela.

Maria nasceu em Sertânia (PE) e faleceu no Recife (PE), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Isabela Maria Guimarães Patriota. Este texto foi apurado e escrito por jornalista , revisado por Allanis Carolina e moderado por Rayane Urani em 22 de dezembro de 2020.