Sobre o Inumeráveis

Maria Ignez Marques Procópio

1948 - 2020

Tinha um imenso amor pela sua profissão e enfrentou heroicamente a pandemia, sem perder a ternura.

1º de Maio, Dia do Trabalhador. Uma data marcada como dia de luta por condições adequadas de trabalho, salários dignos e pela construção de um mundo mais justo e igualitário. Essa poderia ser a resposta dada por Maria Ignez Marques Procópio, Auxiliar de Enfermagem do Hospital Universitário Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (HUAP – UFF).

Só não é uma resposta dela, que também já foi delegada da Delegacia de Base e também coordenadora do Sindicato dos Servidores Técnico-administrativos da Universidade (SINTUFF), porque, justamente no dia 1º de Maio de 2020, travou sua última e mais dramática luta e, infelizmente, a COVID-19 foi mais forte.

Aos 72 anos de idade, Ignez atuou na linha de frente do combate ao Coronavírus, mesmo integrando (pela questão da idade), o chamado grupo de risco. A universidade, em página oficial de uma rede social, mencionou que ela estava aposentada e voltou, como voluntária, para contribuir no enfrentamento à crise sanitária mundial. Em nota de pesar, no site oficial da UFF, isso não é mencionado, apenas que ela foi servidora por 40 anos. Alguns amigos dizem que ela não deu entrada na aposentadoria, pois só sairia da universidade mediante aposentadoria compulsória. Outros amigos afirmam que ela deu entrada no processo e esperava pela aposentadoria. Contudo, é evidente que a universidade e a direção do hospital permitiram que a servidora, mesmo com 72 anos e integrando grupo de risco, continuasse a exercer suas funções e, consequentemente, ficar exposta à possibilidade de contágio.
No entanto, o fato é que, independente da versão mais próxima da realidade (acerca do andamento de sua aposentadoria), Ignez era dessas. Dessas que tomam lugar na linha de frente e encaram, com coragem, o que quer que seja. E assim foi, com coragem lutou até o fim.

“(...) era funcionária antiga, tinha entrado com pedido de aposentadoria (...) Um dia desses, eu e Sandra (outra amiga) íamos pelo corredor central do HUAP e encontramos com Ignez, a mesma de sempre, ocupada com seus afazeres, parou para conversarmos sobre a falta e a má qualidade dos EPIs, da diminuição da nossa insalubridade, retirada pelo Reitor obediente ao governo Bolsonaro”, comentou Izabel Firmino, também servidora do HUAP.
Maria Ignez, conta Izabel, era querida por todos. Foi um grande baque para os colegas, pois achavam que ela iria se recuperar. A servidora deu entrada no CTI no mesmo dia (28/04) em que Sílvio Ribeiro dos Santos, outro trabalhador do setor de enfermagem do HUAP, sob aplausos emocionados dos colegas, tinha alta da internação, necessária por conta das complicações proporcionadas pelo Coronavírus.

No CTI, a auxiliar de enfermagem não podia receber visitas, nem dos amigos do hospital. Porém, seu quadro era estável, o que justificava as esperanças iniciais, mas em questão de dias, se agravou. No dia 30/04 todos no hospital já estavam de sobreaviso, uma vez que a situação de Ignez era muito grave. Ela faleceu na madrugada do Dia do Trabalhador, junto com outra funcionária da enfermagem, Luciana Roberto de Souza, ligada a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, responsável pela atual gestão do HUAP). Luciana também tinha dado entrada no CTI há poucos dias e não resistiu à Covid-19.

Lembrando com carinho, Izabel Firmino acrescenta que Ignez era uma “mãe e avó amorosa, preocupada com as filhas e netos”. Elas tinham uma relação de amizade e companheirismo nas lutas em torno da busca por uma saúde pública, gratuita e de qualidade.

“Ela conheceu meu filho quando era bem pequeno, eu fiz pré-natal e ganhei Pedro, no Antonio Pedro (Hospital Universitário), militava com filho pequeno, ela sempre perguntava : ‘como tá meu neto? Manda um beijo pro meu neto’. Era assim, bem-humorada, carinhosa, excelente funcionária, cuidadosa com os pacientes, companheira de trabalho e luta”, concluiu Izabel.

-

Foi com profundo pesar que a Reitoria da UFF teve ciência do falecimento de Maria Ignez Marques Procópio, na madrugada desta sexta-feira, 01/05.

Auxiliar de enfermagem do Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP), Maria Ignez tinha 72 anos e trabalhava há 40 anos na Universidade. Durante todos esses anos, Maria Ignez tocou a vida de todos que trabalharam com ela e também dos pacientes que tiveram os seus cuidados.

Maria Ignez tinha um imenso amor pela sua profissão e enfrentou heroicamente a pandemia sem perder a ternura, o comprometimento e o seu entusiasmo. Todo este empenho torna a sua missão no serviço público digna de profunda admiração por todos nós. Maria Ignez faleceu no dia 1º de maio, Dia do Trabalhador, e será lembrada sempre como uma pessoa que representa uma classe de trabalhadores que não se intimida frente às adversidades da vida e que se doa sem medir esforços.

A Universidade Federal Fluminense presta sinceras condolências à família e aos amigos.

http://www.uff.br/?q=nota-de-pesar-pelo-falecimento-da-auxiliar-de-enfermagem-maria-ignez-marques-procopio

-

Uma mulher de luz e luta, que ia às ruas para defender a saúde pública.

Uma mulher forte, responsável e muito ágil para solucionar as questões referentes ao cuidado de seus pacientes.

Excelente amiga, sempre preocupada com todos os colegas, bem humorada. Carregava consigo um sorriso acolhedor.

Participou, por vários anos, da organização política e sindical de sua categoria. Era delegada sindical do hospital. Esteve disposta, em todos os momentos, a participar das manifestações de rua e marchas em Brasília para defender a saúde pública. Doou mais de 40 anos de sua vida ao Hospital Universitário Antônio Pedro.

Recentemente foi presenteada com netos quadrigêmeos do filho que reside em São Paulo. Sua alegria era composta por trabalho, família e sua fé evangélica.

Quando chegava no setor de trabalho, sabia ser luz. Tudo e todos se iluminavam e eram contagiados pelo seu jeito de ser.

Maria nasceu no Rio de Janeiro e faleceu em Niterói (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela colega de trabalho e pelos amigos de Maria, Izabel Cristina Firmino, Pedro Rosa e Eliane Lemos. Este texto foi apurado e escrito por jornalistas Alexandro Chagas Florentino e Cintia Honorato de Santana, revisado por Vitória Freire e Lígia Franzin e moderado por Cintia Honorato de Santana em 21 de julho de 2020.