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Maria Ivanilda Ferreira

1946 - 2020

Com os quatorze filhos espalhados pelo Brasil, gostava de passear e matar a saudade hospedando-se na casa de cada um.

No coração das pessoas que a conheceram, Maria ocupou lugar de destaque. Com seu jeitinho especial e carinhoso de ser, tinha o dom de saber exatamente como cuidar de todo mundo. Assim conta seu filho Henrique: “Morei com ela até uns vinte e poucos anos, no sítio. A nossa família era humilde, grande, com 14 filhos. Ela sempre lutou, junto com meu pai, para nos criar e demonstrar igual carinho por todos nós”. E da sua maneira, com palavras doces daqui e atos de amor dali, conquistou a admiração de todos os filhos, que não perdiam uma oportunidade de passar as datas comemorativas ao lado da mãe e aproveitar o almoço preparado com esmero.

Tanto carinho também florescia na relação com o marido. Companheiros por quase toda uma vida, "eram unha e carne um com o outro", nas palavras do filho. Maria era vaidosa, gostava de se arrumar e de desfilar com seus colares característicos; o esposo não pensava duas vezes antes de se candidatar a acompanhá-la onde quer que fosse. “Quando ela se arrumava para ir para qualquer lugar, ele era o primeiro a ir junto”, recorda Henrique.

Maria não costumava sair tanto assim; preferia passar os seus dias no sítio onde morava. Apreciava o ritmo rotineiro do campo, a forma como se entretinha arrumando a casa à sua própria maneira, sempre dizendo: “Minhas coisas só gosto de fazer eu mesma”, conta o filho. Mas grande era a alegria quando resolvia escapar um pouquinho de seus hábitos, para colocar as roupas favoritas e ir até a cidade encontrar-se com os muitos amigos que cultivava. Passeava pelas cidades vizinhas, comparecia a aniversários e agitava as festinhas.

Maria também era conhecida pelas histórias que tanto gostava de contar, principalmente para os filhos. Falava de sua própria trajetória de vida, de como aprendeu a costurar com a mãe, do tempo em que era jovem e trabalhava na roça para ajudar a família. Suas palavras, por vezes árduas de escutar, serviram como verdadeiros ensinamentos e abriram caminhos para que os filhos compreendessem a pessoa extraordinária que ela era.

Maria foi uma mãe cuidadosa, uma esposa encantadora, uma amiga divertida, e possuidora de tantos outros atributos que estará para sempre presente na memória de todos.

Maria nasceu em Ouro Branco (CE) e faleceu em Jaguaribe (CE), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Maria, Henrique Jorge. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Brenda de Oliveira Teixeira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 14 de fevereiro de 2022.