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Maria José Cabral

1932 - 2020

Perto dela ninguém ficava sem comer! Ela fazia questão de servir comidas deliciosas a cada visita que chegava.

"Não tenho medo da morte, pois já estou perto do fim, mas sempre permanecerei viva para quem gosta de mim", dizia Maria.

Sua determinação era admirada por todos, sua alegria era radiante, o semblante meigo conquistava todos que cruzavam seu caminho, era a simpatia em pessoa.

A vida de Mazé nunca foi fácil, mas ela nunca deixou de sorrir e de agradecer pelos dias vividos e, que diga-se de passagem: foram muito bem vividos.

A filha Fabiana afirma: "Minha mãe gostava de estar cercada de pessoas, gostava muito de conversar e tinha sempre histórias e ensinamentos para compartilhar. Foi uma pessoa muito alegre, esbanjava felicidade, ela sorria por dentro e por fora e assim, perto dela ninguém ficava triste. Sua vida nunca foi fácil, mas ela soube conduzi-la da melhor maneira possível. Era um exemplo."

"Mainha tinha uma mania muito marcante, era conhecida por fazer a pessoa comer de qualquer jeito. Todas as pessoas que vinham aqui em nossa casa tinham que se servir de alguma coisa, mesmo sem vontade. Ela era insistente nisso, ela mesma fazia questão de organizar a mesa e servir", conta Fabiana.

A filha diz ainda que a mãe sempre teve um astral muito bom e que viveu com ela várias histórias engraçadas. "Não tinha como não sorrir com ela", relembra.

A família cria uma cadelinha que chegou bem pequena, aos dois meses de vida. Deram a ela o nome de Belinha. Ela era o xodó da casa e dona Mazé nem ligava para as críticas que recebia sobre o quanto paparicava e se dedicava à cachorra. Ela chegou a arrumar um bercinho para Belinha dormir quando era ainda um filhotinho. Depois que Belinha cresceu e aprendeu a pular do berço, Mazé comprou então uma cama para Bela, tamanho era seu encantamento e carinho pela criatura. Até hoje a cadelinha tem sua caminha e vai pra lá sempre que quer tirar um cochilo.

"Mainha sempre foi muito responsável com seus compromissos e esforçada para alcançar seus ideais. Trabalhava na Prefeitura de Itambé como escriturária, tinha muitas amizades e era querida. A família era tudo para ela, amava todos os sobrinhos e era amada por eles. "Minha mãe era uma pessoa encantadora, era uma pessoa muito agradável e não havia quem não gostasse dela.

O maior sonho de Mazé era casar e ter filhos, viver a vidinha dela... Mas não foi exatamente como ela sonhou: ela perdeu seu noivo, Abelardo, na véspera do casamento. Ele teve um infarto fulminante enquanto o casal conversava. Nunca mais ela quis se casar, mas a outra parte do sonho, Mazé realizou: adotou uma criança, a filha Fabiana, a quem dedicou seu sonho desde a chegada da menina até seu último suspiro. Além da dedicação à filha, Mazé ainda trabalhava e cuidava da mãe idosa.

"Ela sempre foi uma guerreira e lutou por sua vida até onde deu", finaliza Fabiana.

Maria nasceu em Camutanga (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Maria, Fabiana Maria Cabral. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 18 de dezembro de 2020.