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Maria Teresinha Cordeiro Falcão

1955 - 2021

Os lábios sorridentes sempre estavam adornados com um batom clarinho, e os perfumes importados eram sua marca registrada.

Não tinha medo de animal nenhum, a escola que ela trabalhava era afastada e por isso frequentemente apareciam cobras e, sempre que isso acontecia ela era chamada para "dar um jeito"; era uma risada só. Aliás, Maria Teresinha era conhecida por oferecer e provocar sorrisos, seu semblante era sempre leve e iluminado. A sua risada era inigualável ela ria alto, muito alto, e com gosto.

"A infância foi muito pobre, a luz era de lampião, não tinha banheiro. A família era formada por cinco irmãos, sendo três meninas e dois meninos. Ela contava que o pão era contado: uma pra cada um, e às vezes ela e a irmã roubavam e iam comer escondido dentro da patente - tipo uma casinha que era o banheiro -, e minha avó dava falta e ia procurar as duas. Sempre as encontrava sentadas lá dentro comendo o pãozinho surrupiado.", conta a filha Alessandra.

Ela era aquela mãe leoa, sempre ajudou os filhos em todas as circunstâncias, tirava dela pra dar aos seus. Muito amiga de todos, quando ficou melhor de vida gostava de ajudar o próximo, presenteava sempre algum necessitado. Sendo uma mãe muito presente, tudo o que os filhos planejavam fazer sempre buscavam a opinião dela; aflições e alegrias eram compartilhadas, ela era o porto seguro da famíla.

Teresinha muito respeitada na cidade em que vivia, era conhecida por todos. "A família ser bem conhecida, pois minha avó nasceu e veio pra cá, não tinha nada quase de casas. Por esse motivo todos a conheciam, ela era aquela que entrava na briga por qualquer pessoa.", continua Alessandra.

Gostava de estar sempre trabalhando, se sentia bem no trabalho, nem gostava dos feriados. Estudou quando já era mais crescida e já adulta terminou sua formação. Concluídos os estudos, passou no concurso público. Trabalhava na secretaria da escola; quando se aposentou, seguiu trabalhando até o dia da sua partida.

A maior lição que Teresinha deixou foi amar os filhos, ela os amava de uma forma que não tinha explicação. Outra marca forte desse mulher tão querida era a honestidade, ela gostava das coisas muito corretas e claras. Muito inteligente, fazia cálculos matemáticos "de cabeça", e o Português não podia que ter uma vírgula mal colocada. Os filhos são educadíssimos ela sempre os ensinou sobre o respeito, e ser correto sempre, é isso que cada um levará consigo para sempre na memória e nas atitudes.

As amigas de infância são todas da família, pois acaram se tornando comadres. Maria Teresinha largava tudo se alguém precisasse dela; não importava a hora. "Às vezes, mesmo já sendo de madrugada madrugada, se alguma pessoa estivesse passando por dificuldades, ela ia; se vestia e ia.", recorda a filha.

Ela conta que iam para os bailes de Carnaval, e que antigamente as roupas eram feitas por elas mesmas. Então, tinha todo aquele preparo antes da festa. E na escola, ela era perita em se meter em briga, até com os guris, pois ela era alta, grande - eles ficavam com medo.

"Na minha casa que é no terreno que ela morava, tem árvores de laranja que meu avô plantou, ela contava que quando pequena iam a pé de balde buscar, e ficava muito longe o rio pra molhar essa árvore, que está até hoje em minha casa." lembra com carinho a filha, Alessandra.

Maria nasceu em Uruguaiana (RS) e faleceu em Uruguaiana (RS), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Alessandra Cordeiro Falcão. Este tributo foi apurado por Mariana Nunes, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 6 de dezembro de 2022.