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Marinho de Souza Barros

1931 - 2020

Quando não estava zanzando por aí com sua Belina, passava o dia mimando seus gatinhos como se fossem crianças.

Gatos são animais discretos, silenciosos, independentes; mas, também, são parceiros e gostam de companhia e de carinho. Os gatinhos do senhor Marinho eram animaizinhos de muita sorte, ele os tratava como crianças, cheio de dengos e mimos. Para ele, os gatos eram muito mais que animais de estimação, eram seus amores.

Sua família era o seu reino, foi casado apenas uma vez, teve sete filhos: Regina, Iolanda, João Marinho, Jorge Mário, Vergueiro, Dira, Tidinho. Ele apreciava muito a tranquilidade de sua casa, onde podia “curtir” a sua aposentadoria e estar perto da grande paixão de sua vida, o bisneto João Pedro. Senhor Marinho também tinha o costume de assistir aos telejornais, por isso havia ganhado uma poltrona muito confortável para ver suas notícias bem aconchegado.

Extremamente vaidoso, gostava de andar arrumado, asseado e bem-posto. Assim também era com seu carro, uma Belina muito bem conservada, com a qual ele andava pra cima e pra baixo na cidade; ou ia dirigindo para o sítio, onde aproveitava para colocar a prosa em dia com os familiares e amigos. Também era um homem cuidadoso com a saúde, tinha os probleminhas normais da idade, afinal já contava 89 anos; mas nunca havia tido nenhuma enfermidade grave.

Era um homem geralmente tranquilo e, curiosamente, às vezes, um pouco ranzinza, daquele jeito que chega a ser espirituoso; implicava um pouco com um aqui, com outro ali; e tinha o curioso hábito de colocar apelidos engraçados nas pessoas, e olha que ele se divertia um bocado com isso.

A neta Inara guarda duas lembranças de grande valor afetivo: uma é o fato de ser ela a acompanhante e motorista oficial do Vovô Marinho às consultas médicas e exames; ela fazia isso como um gesto de amor e cuidado, para que ele não ficasse dirigindo sozinho por aí; a outra é que antes de ser internado, despediu-se dele pedindo “Sua bênção, vô!”, e ele respondeu “Deus te abençoe!”

Marinho nasceu em Olho d'Água das Flores (AL) e faleceu em Santana do Ipanema (AL), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Marinho, Imara Celys. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.