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Mario Lúcio Pinheiro

1954 - 2020

Amava passear no supermercado atrás de promoções. Quando via um preço baixo, fazia estoque do produto.

Mario era conhecido como Mario Fofoca, ou apenas Fofoca, como conta a filha Fernanda. O apelido veio de seu jeito curioso, sempre querendo saber de tudo. Quando ligava para sua família em Minas Gerais, sempre perguntava, em tom de brincadeira: "Alguém morreu aí essa semana?". O jeito brincalhão foi uma das características marcantes de Mario. Era adepto do "perde o amigo, mas não perde a piada". Mas, na prática, o ditado não se confirmava. Dificilmente perdia os amigos, pois era uma pessoa gostosa de se conviver, alegre, comunicativo e, com seu coração enorme, sempre disposto a ajudar quem precisasse. Como bom mineiro, sempre recebia a todos com a mesa farta. Era conhecido pelas suas deliciosas empadinhas. Foi grande fã de Roberto Carlos e Paula Fernandes.

Mario gostava de contar as histórias de seu tempo de criança em Minas. Apesar das dificuldades, teve uma infância feliz, repleta de brincadeiras. Foi um menino muito arteiro. Uma das maiores peripécias dessa época foi ter quebrado os dois braços de uma só vez, durante uma fuga em uma brincadeira de pique pega.

Apesar de ter um jeito às vezes “turrão”, como diz a filha Fernanda, sempre amou e cuidou da esposa. Com os filhos, foi um pai amoroso. Chamava Fernanda de “dengo do pai”. Nunca se negava a ouvir os filhos. Sempre querendo o melhor, procurava indicar o caminho e aconselhar, porém sempre deixou claro, em palavras e ações, que os apoiaria em suas próprias decisões e que sempre estaria ali para ajudá-los se algo desse errado. Com a filha mais velha, correu uma maratona pelo lado de fora para incentivá-la. Dividiu com o filho a paixão pelo Flamengo e sempre o acompanhou nos esportes, da natação ao futebol. Mesmo estranhando um pouco no início, foi um grande apoiador do desejo da filha Fernanda de jogar futebol. Para os netos, foi o avô brincalhão e parceiro de bagunças. Aquele que defendia os pequenos das broncas dos pais.

Muitas histórias engraçadas e felizes marcaram aqueles que conviveram com Mario Fofoca. Uma das mais inusitadas foi que ele, sem querer, acabou sendo responsável pelo casamento da filha. Em um Carnaval, degustando a famosa cachaça mineira, convidou um grupo para juntar-se à sua mesa e também experimentar a bebida, com direito à música "vira, vira, vira, virou!". Como fazia amizade fácil, logo convidou a todos para um churrasco em sua casa. Um dos visitantes era aquele que viria a ser seu genro. Em tom de brincadeira, Fernanda acredita que ele havia se arrependido do convite.

De profissão, fez de tudo um pouco ao longo da vida. De vendedor de café e tecidos a perueiro. Aposentado por complicações da diabetes, aproveitava o tempo passeando pela cidade e conversando com amigos e conhecidos. Nesses passeios, passava por vários pontos da cidade, como a padaria e os bares. Porém, tinha uma paixão especial por supermercados. Gostava de andar pelos corredores vendo as novidades e procurando promoções. Fazia estoque dos produtos que encontrava em oferta.

Uma das marcas registradas de Mario era fazer esses passeios sem camisa já que, calorento, só vestia a peça quando estava muito frio. A outra, inconfundível, era seu bigode, que começou a usar quando a primeira filha ainda era pequena e nunca mais tirou. Fernanda brinca que o pai se parecia com um famoso personagem de um comercial de cerveja. Nos momentos finais, já no hospital, o desejo dos filhos de que o pai ficasse com o bigode foi respeitado.

Mario Fofoca foi um filho, irmão, marido, pai e avô que amou muito e foi muito amado. Sempre procurou manter a família unida. Deixou muitas histórias alegres e inesquecíveis e uma saudade imensa em todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.

Mario nasceu em Santa Rita de Minas/Caratinga (MG) e faleceu em Ipatinga (MG), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Mario, Fernanda Vasconcelos Pinheiro Moura. Este tributo foi apurado por Letícia Virgínia da Silva, editado por Marília Ohlson, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 6 de novembro de 2021.