Sobre o Inumeráveis

Marizilda de Souza Dias

1967 - 2020

Ela era festa e alegria. Não podia passar um dia sem ouvir som e tomar aquela cerveja gelada que ela amava.

Este é um tributo escrito pela filha Vanessa e pela sobrinha Isis para Marizilda:

Tia Zilda falava que se apanhasse na rua e chegasse em casa chorando, apanharia em casa.

Criou 6 filhos, sendo que 2 eram biológicos e 4 sobrinhos. Tratava todos como se fossem filhos, protegia, brigava e dizia que a vida era uma viagem...

Pra ela a família inteira tinha que estar reunida em um grande almoço de domingo, sua felicidade era ver todo mundo junto.

Ela não se importava com o status financeiro, se tivéssemos arroz e ovo, e toda a família, aquilo virava um enorme banquete, cozinheira de mão cheia. A família se deliciava com sua comida.

Minha tia onde chegava transbordava luz, tinha uma alegria de viver mesmo diante de tantas dificuldades que enfrentou na vida, mantinha sempre um sorriso no rosto e bola pra frente. Para ela, não importava se tinha pouco, o pouco ela dividia entre todos não importando como seria o dia dela de amanhã.

Uma pessoa apaixonada que talvez tenha sido sua perdição, já que nem sempre as pessoas retribuem de forma grata o amor a elas dispensado.
Minha amiga, mãe, companheira e confidente. Com ela passei meus melhores momentos, sorrimos, choramos, brigamos, fizemos as pazes muitas histórias juntas de loucura cumplicidade e tudo.

Amava demais os filhos, os netos e a vida.

A gente passou necessidade, ela sempre dava um jeito de alimentar todos nós. Fomos crescendo, as coisas melhorando. Ela arrumou um emprego no Hotel Holly Day como camareira e chegava tão feliz em casa quando trazia as coisas que davam no hotel de resto de café da manhã. Aquilo era um banquete.

Ela nos ensinou a nunca desistir, não sermos egoístas, amar o próximo, nos ensinou o que é ter caráter.

Ela era base da minha família por mais torta que ela fosse, era nossa família.

---

As linhas abaixo foram escritas pela sobrinha Isis Viviane para sua tia, Marizilda:

Minha tia, minha mãe, minha amiga, minha companheira as vezes até minha inimiga (risos). Claro, precisávamos brigar as vezes para aquecer nossa relação e lembrar que nosso laço é eterno, vai além desta vida e de qualquer outra. E como brigamos, mas nunca deixamos de mostrar o quanto nos amávamos independente das diferenças momentâneas, afinal família é o conflito sadio, aquele que te ajuda e mostra como crescer.

---

As linhas abaixo foram escritas pela amiga Juliana Golinelli para Marizilda:

Ainda posso ouvir suas gargalhadas de Peppa, ainda lembro de você me implicando e pedindo pra colocar o samba do Jorge Aragão pra você ouvir. Não aguentava mais ouvir. (risos)

Ainda lembro de você toda vez que me sento numa roda de samba, ainda lembro da sua voz cantando Alcione no karaokê, lembro de você me apresentando para os outros como sua ‘’branca do zoio azul’’.

A gente brigava demais, mas era porque existia amor, era tanto que você até mandou seu cachorro me morder porque eu queria ir embora.

A última lembrança que tenho sua é de você correndo atrás de mim na feira dizendo que precisa falar comigo e que depois me mandaria uma mensagem ,e essa mensagem nunca mais chegou.

Você foi uma grande mulher, guerreira, brincalhona, briguenta, alegre, comilona, mãe, pai, feliz de uma risada engraçada que alegrava muitos e que cumpriu sua missão muito bem.

Quem não conhecia a Nega? Impossível isso.

Guardarei tua imagem sempre comigo.

---

As linhas abaixo foram escritas pela filha/sobrinha Ingryd:

Porque as pessoas partem, eu queria ter você aqui pra sempre, e não pensei que iria te perder tão cedo, hoje me vejo sem você, e aqui ficou um vazio, tem um buraco dentro de mim que nunca vai se fechar.

Eu sinto tanta sua falta , ainda não sei como vai ser daqui pra frente , ainda não sei como eu vou fazer quando olhar pra porta na esperança que você entre por ela, e esse dia não chegar.

Estou tentando ser forte pelas crianças, tentando acreditar que você está perto de mim e a única coisa que nos separa é apenas vidro que separa a vida aqui da vida do outro lado, como se você estivesse me vendo.

Eu te amo, mãe com todo o meu coração. Eu sempre vou amar você, eu nunca vou esquecer: o seu rosto, a sua risada vai estar sempre na minha memória. Sei que essa saudade vai estar comigo o resto da vida.

---

As linhas abaixo foram escritas por Álvaro para sua irmã, Marizilda:

Porque não respondi antes, porque não te abracei, beijei e te apertei junto aí no peito.

Foi nossa última primavera, não estaremos juntos na próxima e a primavera não será a mesma sem você.

Só a saudade vai nortear meus dias daqui pra frente, este amor que talvez eu não tenha sabido te fazer sentir, a proteção que talvez eu não tenha te dado.

Saiba que te amarei e sofrerei sua partida por todos os dias enquanto eu estiver aqui nestas primaveras cinzas sem você.

Te amarei pra sempre.

Marizilda nasceu em Guarulhos (SP) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares e amiga de Marizilda, Vanessa Angelica Moro Framiglio, Isis Viviane, Ingryd, Álvaro e Juliana Golinelli. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.