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Marlon Pachú da Silveira

1990 - 2020

Com uma sede insaciável de fazer tudo ao mesmo tempo, queria abraçar o mundo.

Para os que conheceram Pachú, como era carinhosamente chamado, a impressão que se tinha era que dias com 24 horas nunca seriam suficientes para ele.

"Relaxa, mãe. Eu 'tô' bem!", essa era uma das frase mais ditas pelo filho de Jucimara, que com o coração repleto de saudade contou um pouco sobre a vida do jovem que vivia tudo de maneira muito intensa e que adorava viajar.

Durante quase toda a vida, Marlon teve medo de voar, mas o trabalho como sócio num escritório contábil ─ com um dos clientes em Goiás ─, tornou a primeira viagem de avião inevitável. Dali pra frente, ele pegou gosto e não sossegou mais e, para a alegria de dona Jucimara, que também ama viagens, foi para Brasília, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Canoa Quebrada, Punta Cana...

Pachú era do tipo que se adaptava a qualquer local, desde mata e pousadas simples, até hotéis cinco estrelas; para ele não fazia diferença se havia luxo ou simplicidade. Tinha essa mesma facilidade de adaptação em tudo, desde o ensino fundamental até a faculdade. No trabalho e na vida foi agregador e muito querido, fazia amigos num piscar de olhos. "Era muito solícito, ajudava todo mundo. Pra ele não tinha tempo ruim", diz a mãe.

Neto e filho muito carinhoso, durante a pandemia preocupava-se bastante com a avó Maria José, a quem amava demais.

Após a separação de Jucimara e Hélio, Marlon, que era filho único, ganhou de seus pais as maiores joias de sua vida: o irmão Lucas, de 23 anos, filho de Hélio, e Sindy, de 22, filha de Jucimara. A mãe relembra a felicidade do pequeno ao ganhar o primeiro irmão e, logo depois, a irmã mais nova. "Ele era meu parceiro, meu braço direito e esquerdo, meu melhor amigo e um irmão carinhoso e zeloso. Era muito dedicado à família e, desde que o padrasto faleceu, tornou-se o 'homem da casa'. Sindy sempre foi uma de suas maiores paixões", conta a mãe.

Outras paixões, ainda dentro da família, eram o afilhado Guilherme ─ em quem ele apostava muito no sonho de se tornar um jogador de futebol ─, e o padrinho André, por quem nutria uma verdadeira adoração e a quem sempre chamou de "meu dindo".

Humberto, amigo e sócio de Marlon no escritório, passou a ser um apoio incansável no amparo à família. Além dele, outros amigos também se reuniram para ajudar em tudo que era necessário, ofereciam, sobretudo, muito afeto.

Os amigos do Centro Universitário La Salle, em Niterói, homenagearam Pachú ─ o amigo brincalhão que fez amizade com a faculdade inteira ─, numa linda missa celebrada em sua memória.

Marlon tinha muitos planos e sonhos a realizar. Além da obra em andamento na casa: a construção de uma área de lazer onde faria uma reunião de amigos, planejava uma viagem a Bangkok, na Tailândia, e outra para Maceió e Porto de Galinhas; esta última não foi cancelada pela mãe e será realizada, assim que possível, por ela em homenagem ao filho.

"Ele aproveitou e viveu o tempo que Deus permitiu. Teve sede de vida nos seus últimos doze anos. Hoje eu entendo, ele tinha que aproveitar ao máximo! E é isso que me permite caminhar", conclui a mãe, pedindo a Deus que ilumine os caminhos de seu filho.

Marlon nasceu em Niterói (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 30 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela mãe de Marlon, Jucimara Pachú Ribeiro. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Lígia Franzin em 31 de março de 2021.