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Michelle Matias da Silva

1988 - 2021

Enfrentava as batalhas da vida da mesma forma que enfrentava o medo de tubarão, porque amava o mar e amava viver.

Michelle era filha de Eunice e, além de grandes amigas, elas cuidavam muito bem uma da outra. Era a irmã mais nova de Cinthia, a tia de Bernardo e a madrinha do outro sobrinho, Lucas.

Valorizava a vida em família — e demonstrava isso no apreço que sentia por se reunir com os familiares para comer, beber e conversar —, mas também gostava muito de sair, ir a festas, praticar crossfit, assistir a séries e filmes. Tinha por hábito assistir a seriados com muitas temporadas como "Grey's Anatomy" e "Friends".

De sua vida fazia parte também o primo Frank que demonstra por ela um carinho imenso: “A Michelle era minha prima, minha melhor amiga, desde sempre. Era minha irmã. Fomos criados juntos e estudamos juntos a vida inteira. Era minha companhia, minha confidente... Foram muitas as viagens, festas, receitas, cervejas, shows”.

“Na infância, Michelle era brincalhona e muito ativa, estando sempre cercada de outras crianças para brincadeiras em grupo, como esconde-esconde e queimada. A primeira lembrança que me vem à mente é dos seus sorrisos, desses que iluminam o ambiente, além da sua gargalhada alta, que fazia todos rirem com ela.”

Ele se recorda de acontecimentos que ficaram marcados: “Certa vez, no jardim de infância, Michelle levantou-se da mesa e já ia saindo da sala quando a professora indagou aonde ela estava indo. Então, despretensiosamente, ela respondeu: 'Estou indo beber uma aguinha!'. Eu sempre me recordo disso”.

Outra recordação aconteceu no Ensino Fundamental: “Michelle tirou 'Muito Fraco' em Matemática. Em vez de ficar triste, disse para a professora que aquele conceito para ela valia como um 'Muito Bom'. Volta e meia, tinha dificuldade nas matérias, mas nunca repetiu de ano”.

As travessuras na infância dos dois deixaram lembranças gostosas: “A primeira recordação que me vem à memória aconteceu na casa da nossa avó Diva. Certa vez, descobrimos que colocando um telefone fixo na tomada o aparelho imediatamente tocava. Era uma tomada de energia comum e nunca soube bem o motivo de isso acontecer. De todo modo, naquele dia, nós colocamos inúmeras vezes o telefone na tomada e toda vez que ele tocava, ríamos sem parar por longos minutos. A felicidade ao lado da Michelle era algo muito simples de acontecer!".

Frank celebra a convivência que teve com Michelle: “Nós éramos uma dupla! Durante toda a vida estudamos juntos, tínhamos a mesma turma de amigos, fazíamos crossfit lado a lado, íamos sempre aos mesmos lugares. Contávamos sempre um com o outro. Ela era cuidadosa comigo ao extremo, um verdadeiro anjo da guarda! A Michelle fez parte dos melhores momentos da minha vida: foram inúmeras viagens, inúmeras situações inusitadas e divertidas em festas, no pôr do sol em São Thomé das Letras e nas descobertas de cachoeiras”.

Quando adulta, Michelle permaneceu espirituosa, comunicativa e expansiva com quem ela tinha algum grau de intimidade. Entretanto, por vezes, gostava de estar na paz dela, como ela mesma dizia. Nessas horas, ficava em seu canto, assistindo às suas séries.

Trabalhava como Suporte em uma empresa de ERP — software de auxílio administrativo e financeiro para empresas. Era a segunda vez que ela trabalhava nessa empresa e comentava, frequentemente, do carinho com que era tratada pelos colegas de trabalho.

Os gostos e preferências de Michelle bailam sob a forma de memórias inesquecíveis para Frank, como sua paixão pela banda Backstreet Boys; a lasanha ao sugo e carne de boi cozida, que eram os seus pratos prediletos; o pedido para que ele fizesse um risoto de cogumelos; sua torcida pelo Cruzeiro e as ameaças que fazia à irmã e ao primo de revelar que já tinham sido cruzeirenses, antes de se tornarem atleticanos; a forma como dizia que os dois não entendiam nada de futebol.

Não poderia ficar de fora a mania que ela tinha de inventar histórias sobre os amigos que não estavam em um determinado local, principalmente nas festas. Dizia, por exemplo: 'Fulana não veio nesta festa porque está grávida. Deu ruim pra ela!'. Só que depois esquecia de desmentir e as pessoas continuavam acreditando em suas invenções.

Michelle alimentava o grande sonho de se tornar Chefe de Cozinha e mudar-se para o exterior, pois sentia que o seu lugar estava "a milhas de distância daqui" — como costumava dizer.

Para concluir, Frank resume: “Michelle tinha como lema uma frase que se fazia presente nas mais diversas situações: 'Sem baixo-astral, cara! Sem baixo-astral!'. Ainda sinto falta dos conselhos dela. Ainda é difícil acreditar no que aconteceu”.

Michelle nasceu em Santa Luzia (MG) e faleceu em Santa Luzia (MG), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela primo e melhor amigo de Michelle, Frank Carvalho Ferreira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 31 de julho de 2023.