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Mirian Fernandes da Silva

1949 - 2020

Tinha sempre à mão um chá para curar os males do corpo e um colo para curar as dores da alma.

Uma avó memorável, exemplo de pessoa que viveu para cuidar e acolher os filhos, netos e bisnetos. Dona de um coração perfeito e cheio de bondade, amava de forma incondicional; e demonstrava esse amor em todos os momentos de convivência. Estava sempre se preocupando com todos, foi um exemplo de altruísmo e generosidade.

Tinha por hábito acordar bem cedo. Todos os dias ela deixava sua cama às 5:30 da manhã; e, como forma de agradecer ao criador a dádiva da vida, já amanhecia entoando os hinos da Bíblia - sabia todos de cor. Cantava com toda sua alma para louvar o Senhor.

Mirian foi uma mulher de muita fibra. Viveu com seu esposo por cinquenta anos; juntos, formaram uma belíssima família até que ficou viúva, em 2017, quando seu companheiro partiu. Ela sofreu muito, mas se manteve firme e altiva, responsabilizando-se de forma dobrada por sua família.

Comemoraria seu aniversário aos dezessete dias do mês de julho deste ano, junto com sua bisneta, Ana Victoria. Até o bolo já havia sido carinhosamente escolhido e encomendado. Mirian não estava mais aqui para soprar as velinhas; mas, certamente, esteve presente nos corações de todos os seus descendentes.

Os natais eram sempre uma ocasião especial. "Minha avó recebia com muito amor a família toda em sua casa, para passar ao lado dela. Aquela virada da véspera e o almoço natalino ficarão marcados para sempre na minha memória. Gostava de todo reunidos, netos, filhos, noras, genros e bisnetos. Nosso Natal jamais será o mesmo sem ela", revela a neta Jéssica.

Quando alguém adoecia, ela logo ia buscar alguma erva específica no mato perto de sua casa para fazer um chá. Não se sabe se era o remédio caseiro ou o imenso amor de Mirian que trazia o conforto e a cura. Se uma peça de roupa fosse danificada, eram suas mãos amorosas e habilidosas que a consertava. Outra especialidade dessa avó tão querida era o macarrão que só ela sabia preparar; ela caprichava na cebola e todos se deliciavam com seu tempero.

A neta lembra que, quando era pequena, sua avó costumava fazer um funeral para os cães que partiam, enterrando-os no fundo do quintal. "Eu morria de medo disso!" A verdade era que Mirian cuidava dos animaizinhos com respeito e amorosidade, fazendo questão de dar-lhes uma despedida digna.

As horas livres eram desfrutadas na varanda da casa, onde Mirian punha-se a cantar as músicas da Harpa Cristã da Bíblia; em tudo o que fizesse, colocava a presença de Deus. À tarde, costumava ir à casa de Dona Isnar, a vizinha que já contava 112 anos de vida; as duas amigas passavam um bom tempo juntas.

As lembranças boas são incontáveis, tudo ficava mais gostoso e mais bonito com a presença de Mirian; ela era a luz central da família. Os filhos, netos e bisnetos têm absoluta certeza de que ela foi recebida por Deus no Céu, em sua infinita bondade. Aqui na Terra, a família seguirá vivendo segundo os ensinamentos dessa mulher ímpar, que soube ser autoridade e colo ao mesmo tempo, presenteando a todos com seu amor, seus abraços e sua doce presença.

Mirian nasceu em Sooretama (ES) e faleceu em São Mateus (ES), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Mirian, Jéssica Dias de Jesus. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ana Macarini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 10 de novembro de 2020.