Sobre o Inumeráveis

Moacir Bárbara

1944 - 2020

Ensinou que a vida é boa e que rotina guarda uma beleza singular.

“O que você vai fazer quando voltar pra casa, vô?”, perguntou Carolina para o avô que rapidamente respondeu: “Trabalhar, fazer o Imposto de Renda”.

Esse foi Moacir, ou simplesmente Moa. Amava trabalhar... e, quem diz que fazer todo dia tudo sempre igual é monótono, nunca conheceu a felicidade que a rotina pode proporcionar.

Todos os dias, Moa acordava às 5h00, tomava um café muito forte, que só ele podia aguentar, e saía às 6h20 para ir trabalhar. Sempre às 12h30 ligava do trabalho para Carminha, sua esposa há mais de quarenta anos, só pra dizer que aquela comida que ele havia levado de marmita era muito boa, melhor que a de qualquer restaurante.

No final do dia, lá para às 18h, ligava de novo... Em pouco tempo ele estaria em casa, mas se fosse noite de lua cheia, Moa fazia questão de pedir à Carminha que fosse admirá-la da varanda. “A lua está linda, Carmem, daqui a pouco eu chego para tomarmos um vinho juntos”, dizia ele.
Lembranças como essas retratam bem quem foi Moacir: um contador dedicado, que amava a profissão, sem nunca pensar em abandoná-la. Simplesmente amava o que fazia.

Maior dedicação era vista apenas quando o assunto era a sua função paterna. Claudio, Eduardo e Gustavo ─ seus grandes amores. Botava os meninos num fusquinha e, aos domingos, ia passear no Lindoia, o clube de piscina da cidade.

Moa também gostava de sair para pescar... mas nisso, não era muito bom. “Ninguém esquece do dia em que o peixe saiu levando o anzol e nunca mais voltou”, lembra Carolina da história que, por repetidas vezes, foi contada pela avó Carminha.

Em um mundo de dar medo, Moa deu coragem à família. Em momentos nos quais algum deles ─ filho, esposa ou neto ─, duvidou de si mesmo e pensou ser ímpar, ele o ancorou e provou que formavam um par.

Foram nos exemplos dele, nas vivências dele, que cada um da família Bárbara se espelhou. “Aprendemos com ele a união familiar, os pequenos e simplórios detalhes que constituem a personalidade humana e nos inspira”, orgulha-se a neta.

É difícil resumir o Moa em palavras, pois a família Bárbara é puro sentimento. A carne e o osso vêm depois.

Mas sobre qual teria sido o maior ensinamento do Moa, Carolina é clara: “Ele nos ensinou que a vida é boa, que o otimismo vem de saber viver com sabedoria e que os sentimentos também podem ser educados”.

Moacir nasceu em Pilar (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Moacir, Carolina de Melo Mendonça Bárbara. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 29 de novembro de 2020.