1946 - 2020
Reunia pessoas queridas na sombra de sua varanda e se despedia dizendo: "você é muito importante para mim".
A generosidade em expressar carinho, atenção e amor eternizou Natalia como uma mulher afetuosa. Tinha mania de abraços e o costume de dar dois beijinhos no rosto. Amava receber visitas; todas as tardes reunia amigos, filhos, netos e bisnetos na sombra de sua varanda com total satisfação e demonstrava isso claramente na despedida quando sempre dizia a cada um: "você é muito importante para mim".
Dona de um espírito ativo e disposto, esbanjava alegria e vontade de viver. Tinha gosto por chimarrão e habilidade em dar forma a lindas peças por meio de seus crochês. Suas horas livres eram dedicadas ao preparo de guloseimas para o desfrute da família; os preferidos eram pudim, pipoca e pavê de bolacha.
Dedicar-se à família foi seu maior feito. Além de sete filhos - Lorecy, Onesi, Loiri, Rita, Leci, Mari e Angela Cristina -, genros e noras também faziam parte de sua filiação. Essa geração é fruto de mais de meio século de união com Valdelírio da Silva, com quem foi casada por cinquenta e dois anos e que a deixou em 2017.
Aos 45 anos, Natalia foi perdendo a audição gradativamente e desenvolveu de forma natural a habilidade da leitura labial. A união e companheirismo da família foi seu arrimo para lidar com essa grande e definitiva transformação; pôde contar com apoio em visitas médicas, ao fazer exames e em viagens.
Quando alguém não compreendia a importância de encará-la de frente ao falar, o olhar de Natalia a seus filhos já dizia tudo. Atentos à necessidade da mãe, eles então repetiam como se estivessem fazendo uma pergunta e ela traduzia a mensagem por meio do olhar.
Durante quase trinta anos conviveu com a surdez, mas a perda auditiva não a impediu de viver plenamente, aproveitando cada minuto. O aparelho que usava a ajudava a participar minimamente do espaço em que estava; conseguia, por exemplo, ouvir um latido de longe. Manteve um arranjo criativo durante um tempo em sua casa, amarrando na fechadura panela, tampa, colher e demais utensílios como forma de alerta caso alguém abrisse a porta.
Com resiliência e força de vontade, suas adaptações a faziam estar presente e participante em todas as ocasiões. “Tinha tanta vontade de ouvir, que às vezes a gente pensava que ela nos escutava”, relata a filha Rita.
Falante e dinâmica, a alegria era sua marca. A fé também a identificava, praticava o catolicismo “e, nas horas mais difíceis, tinha na oração sua força”, conta Rita.
Todos que sempre ouviram que eram importantes na vida dela, ecoam na eternidade o quanto Natalia foi e sempre será valiosa.
Natalia nasceu em Inhacorá (RS) e faleceu em Cacoal (RO), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Natalia, Rita Merce. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 9 de maio de 2021.