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Nelcir Castilho Dos Santos

1964 - 2021

Entre uma corrida de rua e outra, planejava seus próximos passos, sempre pensando na família.

Nelcir era um sonhador. Da vida simples em Marmeleiro até o ingresso das duas filhas na faculdade de Medicina, muito tempo se passou, e nesse entremeio seus sonhos foram se tornando realidade.

Filho de Ari e Miguelina, Nelcir era o mais velho de quatro irmãos, e foi a típica criança arteira cuja dificuldade de uma vida humilde não era empecilho para a diversão, como as disputas pela bola, de borracha ou de meia, em pés descalços na terra solta, que, somados à algazarra da criançada, constituíam prêmio de uma vida inteira.

Entre uma pelada e outra trabalhava duro, como engraxate, em troca de uns trocados que, com sorte, dariam para comprar seu picolé preferido: o de nata.

Sua vida profissional começou de fato como contador, mas toda sua carreira foi como representante comercial de indústrias farmacêuticas.

Quando se apaixonou, sonhou o sim de uma moça bonita chamada Elaine, com quem namorou desde que tinha 16 anos, e ela 14. O namoro virou casamento e da união vieram as duas filhas, Amanda e a Daniela.

Nelcir era um homem que vivia para a família e para sua fé: amava a Cristo sobre todas as coisas, e fazia questão de passar seus valores às filhas.

Sua diversão era viajar com a esposa, o churrasco entre amigos e correr. Para ele, a corrida funcionava como uma válvula de escape, em que liberava suas energias, cuidava da saúde e exercitava a capacidade de resistência. Correr fazia aflorar em Nelcir o lado competitivo e atlético que compartilhava com a filha Amanda, com quem sonhava correr a maratona de Berlim.

Nos últimos dezoito meses ele trabalhou o triplo e de forma incansável todos os dias, pois desejava, muito em breve, conseguir mudar toda a realidade da família: dos pais, dos quatro irmãos e, claro, da esposa e filhas. Tinha planos de se mudar para o interior de São Paulo ou Rio de Janeiro; sonhava, após uma vida de muito trabalho, poder viajar para vários lugares sem preocupações.

Falava muito sobre as dificuldades da infância dele e de como ele pôde tornar o futuro das filhas diferente. Um grande orgulho para ele era que as filhas concluíssem a faculdade sem dívidas, conta a Amanda.

Nelcir deixa saudade, deixa a Elaine, seu grande amor, deixa suas filhas tão queridas, os pais, irmãos, amigos. Acima de tudo, deixa lições de resiliência, esperança e fé.

Nelcir nasceu em Marmeleiro (PR) e faleceu em Cuiabá (MT), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Nelcir, Amanda Rissi. Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Ana Helena Alves Franco, editado por Rosa Osana, revisado por Walker de Barros Dantas Paniágua e Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2021.