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Nelson Antônio Tereza

1949 - 2021

Escreveu, à mão, mais de 200 cartas a profissionais de saúde na pandemia, e junto delas, enviou carinho e bombons.

Conhecido na cidade de Osório, no Rio Grande do Sul, como Panamá, pelo companheiro inseparável que usava fosse dia ou noite, Nelson Antônio fez a maior parte da carreira profissional em Canela, na serra gaúcha, onde trabalhou como chef de cozinha em hotéis e teve uma primeira união, da qual nasceram dois meninos.

Foi em Osório, cidade natal, que conheceu a esposa, Maurília Oliveira, ao lado de quem viveu quarenta anos e com quem teve outros três filhos, Rômulo, Elvis e Gisele, a Gigi. Dos filhos Rômulo e Elvis nasceram os três netos, adoração da vida do avô! De Rômulo, veio Rafaela, a Rafa, “o grude do vô”, conta Gisele; de Elvis, Igor e Laura.

As duas netas formavam com a tia Gisele o trio de meninas de Nelson. Com os netos, ele era animação e parceria. Uma bagunça com as meninas era com ele mesmo, que sempre que podia mimava as crianças. Além de brincar com os netos, Nelson Antônio era um homem antenado e super interessado em aprender. Nas horas vagas, ele gostava de ler, tocar teclado e aprender algo novo. “Ele era muito tecnológico”, diz Gigi.

Depois de se aposentar como chef, Nelson Antônio também se dedicou ao ramo de vendas e ao voluntariado, em Osório. Ele, que gostava de se alimentar bem, tomar bastante água e caminhar para conversar com as pessoas. “Como voluntário, estava sempre disposto a ajudar uma ação ou a alguém, seja para ler um livro, seja para acolher pessoas em processo de recuperação do uso de drogas ou cozinhando para distribuir viandas na comunidade”, explica a filha.

Na pandemia da Covid-19, Nelson Antônio dedicou-se a escrever, à mão, cartinhas dirigidas a profissionais de saúde. A filha Gisele lembra de pelo menos 200 cartas, que Nelson Antônio escreveu e anexou em um embrulho com um bombom, tão encantado que era com o trabalho e a dedicação dos trabalhadores da saúde. Ele não conseguiu entregar. Coube à filha Gisele a tarefa de entregar cartinhas e bombons após o falecimento do pai. “Um momento de grande emoção foi quando levei 50 cartas para a equipe que trabalhava na UTI no hospital local”, recorda Gigi.

Querido na cidade, admirado por todos, Nelson Antônio foi um homem que alimentou o corpo de milhares de pessoas nos hotéis onde chefiou cozinhas, e também alimentou a alma de todos aqueles que o conheceram ou que tiveram a oportunidade de conviver com ele. “Hoje eu gostaria que ele fosse lembrado, como de fato foi pra muita gente, acolhedor, alegre, que amava viver; um pai amoroso, sensível, que sempre nos ensinou que éramos fortes e que nós mesmos poderíamos estabelecer o que mereceríamos”, diz Gisele, enfatizando, ainda que o pai foi um exemplo dentro de casa, ao lado da esposa. “Hoje, já mulher, sei como é ser amada e respeitada”, resume a filha.

Nelson nasceu em Osório (RS) e faleceu em Osório (RS), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Nelson, Gisele Tereza de Barros. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 24 de março de 2022.