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Nestley Souza Santos

1966 - 2020

Sob o jeito calado e contido, um homem generoso e pacífico.

Familiares e amigos de Nestley escreveram as seguintes homenagens a ele:

"Meu pai era um homem simples. Porém, tinha um coração enorme. Não tinha inimigos e era querido por todos. Cresci vendo as pessoas falarem bem dele pra mim e tinha muito orgulho disso. Ele poderia ter o jeito dele de ser, mas nunca me deixou faltar nada e estava disposto a ajudar não só a mim, mas a todos que estavam à sua volta. Convivi muito pouco com ele, pois com onze anos tive que me mudar pro Rio de Janeiro.

Senti muito sua falta. Pra poder vê-lo, tinha que ir à casa da minha avó, na Bahia. Infelizmente, depois que fui morar fora, não pude ficar com ele e compartilhar mais momentos, mas estava sempre orando pra Deus cuidar dele por mim. Todo ano queria poder visitar a minha cidade natal, mas devido ao meu trabalho, nunca conseguia. O que me conforta é saber que ele foi um grande homem, de bom coração, que deixou seu legado e sua história. E através dessa história devo prosseguir, sabendo que ele está lá no céu e que um dia vou me encontrar com ele de novo." (Abinadabe, filho)

“Nada confortará a saudade que sinto do meu irmão, mas as recordações ajudam a perceber que ele continua aqui no meu coração. Aumentam a tristeza, a saudade e a falta que eu sinto de você. Descanse em paz. Irei orar por você todos os dias.” (Gisônia, irmã)

“É, tio Dêda, tá difícil aqui sem o senhor, nunca imaginei te perder um dia. Hoje o que estamos passando não tem explicação, a sua falta é muito grande e dolorosa entre nós. Sabe aquela dor que corrói o coração? é essa que eu sinto. O senhor foi um pai, um padrinho, um irmão e um amigo para todos nós, foi e sempre será tudo pra mim e para minha família. Me lembro dos dias de impaciência com meus filhos! Na verdade, não fazia nada com eles, só mesmo aquele barulho. Os meninos sabiam que o senhor não faria nada com eles, só mesmo amor e carinho. Os meninos te adulavam para irem à fazenda com eles, e o senhor sempre falava: 'Outro dia, mô fi'.
Lembro das ligações para falar com os meninos, pra perguntar o que eu fiz de bom pra comer. Mas o senhor sabia que tudo que eu fazia levava o seu pedaço. E hoje, tio, não tem pra quem eu levar o pedaço. Imagine como estamos sofrendo sem o senhor aqui. O senhor foi morar no céu com Deus e nos deixou. É com muitas saudades, tio Deda, que escrevo essas pequenas palavras para o senhor, pra te dizer que te amamos, que nunca vamos te esquecer.” (Gizany, sobrinha)

“Minhas lembranças são marcadas por uma risada adorável e contagiante. Durante todo o tempo foi uma pessoa muito paciente comigo. Estava sempre à disposição quando eu pedia por ajuda para as lições de matemática. Sorte eu tinha e tive por contar com um tio inteligente e prestativo como ele. Uma pessoa incrível, como dizem, era um ponto fora da curva, que conheci e de quem tenho orgulho de ser parente.” (Ana Clara, sobrinha)

“Por mais que você não esteja mais entre nós, suas palavras, seu caminhar, seus conselhos ficarão eternamente gravados em nossas memórias. Tio Nestley, você sempre estará em nossos corações. Obrigado por tudo, tio.” (Hugo, sobrinho)

"É, tio, vai ser difícil chegar em Potiraguá e, de longe, não te ver encostado no murinho da casa de vó (que também é a sua), sozinho ou conversando com os amigos ou sobrinhos, um dos seus maiores passatempos, típico de cidade pequena. Vai ser difícil entrar na sua casa e passar pelo seu quarto e ver que não está tirando seu cochilo após o almoço ou final de tarde. Era meu primeiro endereço após chegar na cidade, batia ponto toda vez. Mesmo com seu jeito caladão, estava sempre disposto a conversar conosco, os sobrinhos, independentemente do assunto. É difícil aceitar que você se foi, acho que a 'ficha' nem caiu direito. A casa está tão vazia sem a sua presença! Obrigado por tudo. Sei que um dia vamos poder prosear novamente." (Gabriel, sobrinho)

“Fui colega de Nestley, na mesma turma, em 1986, na Universidade Federal da Bahia. Moramos no mesmo alojamento, no campus da universidade. Nós nos aproximamos rápido. Cursávamos a maioria das disciplinas juntos. Tinha uma característica muito bacana: sua tranquilidade. Ele trazia pra gente uma tranquilidade grande em sua maneira de agir. Uma das poucas pessoas que não teve nenhum atrito no alojamento, onde moravam mais de 30 pessoas. Era uma pessoa muito pacífica, sempre foi, de uma natureza incrível. Saíamos sempre para fazer as refeições juntos no restaurante. E ele fez amizade com todo mundo. Uma das pessoas que não teve atrito e nem inimizade com ninguém foi o Nestley. Muito inteligente, era uma pessoa que não precisava estudar muito, tinha uma capacidade incrível.
Me lembro que ele era canhoto. Não jogava futebol com a gente, mas me lembro que escrevia com a mão esquerda. Saímos de lá, nos formamos, vim trabalhar em Ilhéus, na UESC, entrei em contato com ele, mas acabou não dando certo para que ele viesse aqui. Nem eu fui e nem ele veio. Mas era um dos colegas que eu desejava muito rever. Infelizmente, a vida... Se eu tivesse que resumi-lo em poucas palavras, diria que foi ‘uma pessoa de muita paz’, de fácil amizade, muito colega, muito bacana. A certeza de que foi uma boa pessoa, uma boa alma. Uma pessoa que emanava paz, tranquilidade entre as pessoas. Isso era uma coisa bem forte nele: aquela fala tranquila, sempre tranquila... Nunca alterou a voz para ninguém, muito pacífico mesmo.” (Jaenes, amigo e ex-colega)

“Mais conhecido como Dêda ou Kaká, nasceu 34 dias após o meu nascimento. Fomos predestinados a uma amizade eterna. Na infância e adolescência estudamos juntos sempre, compartilhando momentos diversos, como a morte dos nossos pais: senhor Tidinho e depois o meu Silvino. Mas também tivemos muitos momentos bons, como brincadeiras diversas inerentes ao nosso tempo. Tinha um caráter forte e humilde, de poucas demonstrações de alegria, mas, quando o fazia, era com intensidade. Boate de Gena foi nosso palco de dança, assim como a boate da Zete. Na década de 1980 foi em busca de maior formação. Retorna após a conclusão do curso de agronomia e se torna um exímio professor de matemática. Isolamento já era sua prática, mas surpreende a todos quando aceita meu convite de irmos a Eunápolis (BA) num bate e volta, pois não curtia viagens. Para mim não foi surpresa, mas foi muito gratificante perceber que nossa amizade era nutrida pela confiança. Em todas as minhas viagens a Potiraguá, o primeiro momento era bater papo com ele ali na mureta. Será muito triste não tê-lo mais ali. Saudades e gratidão, são as palavras do momento. Nos veremos em breve, amigo.” (Silvino, amigo).

Nestley nasceu em Potiraguá (BA) e faleceu em Vitória da Conquista (BA), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Nestley, Ana Clara Assis Souza Santos. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 31 de dezembro de 2020.