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Neusa Paula da Cunha

1949 - 2020

Zelou pela sua família como quem protege um tesouro.

Neusa foi um lugar de refúgio e segurança para os seus, um porto seguro onde se podia ancorar em busca de escuta, acolhimento e palavras reconfortantes.

Era apaixonada por seu esposo Egídio, que sente uma infinita saudade de sua princesa - como carinhosamente a chamava. Trilharam juntos 46 anos de união, que resultaram em três filhos: Geisa, Vinícius e Ivan. Ganhou mais um filho com a chegada do genro Paulo e foi agraciada com o neto Vitor, com quem dividiu seu lado mais açucarado e mole de avó por 17 anos.

Demonstrou por diversas vezes o quanto era capaz de renunciar a si mesma para fazer quem estava ao seu redor se sentir amado e acolhido. Um exemplo foi quando o neto nasceu e Geisa teve de ficar por quase dois meses na casa da mãe. Neusa foi o amparo de sua filha durante todo tempo em que foi necessário, saindo do próprio quarto para ficar junto dela e do neto a todo momento, cuidando de ambos noite após noite.

Era assim que ela manifestava sua imensidão: nos pequenos gestos do dia a dia. O pouco e o muito que fazia eram considerados como pérolas para sua família. Geisa compara a figura mãe com os trechos da canção que diz “Tu é trevo de quatro folhas, é conversa rara e boa”.

Neusa também foi uma habilidosa costureira, telespectadora assídua de novelas mexicanas e caprichosa com a limpeza de seu lar. Era criativa e sempre tinha um prato novo aguardando quem fosse visitá-la, resultado de receitas que ela aprendia pela televisão.

Exímia cozinheira, sempre estava pronta para preparar pratos saborosos, mesmo em ocasiões que não eram tão significativas para ela. Era assim com o Natal, comemoração da qual ela não fazia muita questão, mas todos os anos era a primeira a planejar o cardápio do almoço e garantir o banquete da ceia com todo o capricho, só para fazer o gosto de sua família.

Conseguia ser uma gigante com seus 1,60m de altura, pois sua garra ao enfrentar o que a vida lhe lançava a engrandecia.

Independente do estado de espírito que estivesse - brava, triste, indignada, tímida ou feliz - sempre soltava essa expressão: “Ai credo”.

Quando jovem, esbanjava disposição e dizia que com ela não existia preguiça. Uma parte dela era durona, a outra se desmanchava toda por aqueles que amava.

Ela foi um pote de ouro no fim do arco-íris, abrilhantando e colorindo a vida de todos que a cercaram.

Neusa nasceu em Paraguaçu Paulista (SP) e faleceu em Osasco (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Neusa, Geisa Ferreira Lopes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 24 de janeiro de 2021.