1973 - 2020
Realizou o sonho de rodar o país em sua própria carreta.
Nilton era um homem trabalhador, motorista de carreta, que vivia para a família. Para o pai, a mãe e as irmãs, era o Júnior ou Juninho. Para sua adorada filha Maria Clara, era mais que um pai: era pai e mãe. Ela era a sua razão de viver. Já para os amigos, era simplesmente conhecido como Torresmo.
Flamenguista de coração, Júnior teve vários sonhos ao longo da vida: ser motorista como seu pai, ter sua própria carreta, comprar um sítio onde os pais e a filha pudessem morar e ganhar na loteria. Alguns realizou, outros não.
Quando criança, quebrava os cabides de sua mãe para fazer de volante e dirigia para todos os lugares imaginários, sentado na poltrona de casa. Mais tarde, gostava de praia, surfe, "pop rock" internacional e de sair com os amigos.
Seu pai, à época comerciante, logo o levou para o açougue, onde aprendeu uma profissão, mas nunca desistiu de ser motorista. Ao contrário, foi crescendo com o sonho cada vez mais latente de dirigir caminhões. Tudo começou sentado no colo do pai. Não alcançava os pedais de freio, acelerador e embreagem, mas "dirigia" só no volante. Quando, enfim, conseguiu alcançar a parte de baixo também, realizou seu sonho, virando motorista de carreta! Trabalhou em vários lugares e conheceu todo o Brasil na boleia do caminhão.
Atravessava o país levando café e trazendo madeira, piso e outros produtos, mas trabalhava para vários patrões. Assim, alimentava o desejo de ter seu caminhão. Lutou muito, até que ele e o pai conseguiram realizar o sonho de trabalhar por conta própria, tendo sua própria carreta.
Após constituir família Nilton foi morar um tempo no Sul do país, mas a saudade de seus pais o fez voltar para o Rio de Janeiro. Mais tarde conseguiu trazer o seu maior amor: sua filha, Maria Clara. Juninho era um excelente pai e mãe da menina. Educava, brincava, conversava bastante, passeava e fazia muitos planos.
Seus fins de semana, quando não estava na estrada, eram dedicados à sua segunda paixão: churrasco acompanhado de cerveja. Mas sempre em casa ou na casa das irmãs, nunca na rua com amigos. Com muito suor e trabalho, conseguiu comprar uma segunda carreta. Pensando na filha, optou por não fazer viagens longas, assim, dali em diante, passava todos os fins de semana em casa.
Quando começou a pandemia, por ser do grupo de risco, com muito medo, parou de trabalhar. Não imaginava durar tanto tempo e dizia sempre que "se pegasse a doença não sobreviveria, por ser obeso", conta a irmã Solange.
Júnior não se descuidava dos protocolos de segurança, mas, infelizmente, o que ele mais temia aconteceu e em outubro de 2020, aos 42 anos, sua vida foi interrompida pela Covid-19.
"Quando morre uma pessoa querida, próxima, não morre só a pessoa, morre tudo que ela representa, os hábitos e costumes; o olhar, a voz; até mesmo as festas, o Natal. Enfim, é um dado estatístico para muitos, mas, para nós, era o irmão, o pai, o filho, o tio, o amigo, que ao morrer leva um pouco de nós também."
Nilton nasceu em Magé (RJ) e faleceu em Bom Jesus do Itabapoana (RJ), aos 42 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã de Nilton, Solange Gonçalves Diniz. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Denise Pereira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.