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Nilza Ramos de Oliveira

1968 - 2020

O anjo da guarda dos idosos, ia trabalhar até nos dias de folga, porque "os meus velhinhos precisam ficar cheirosos e limpinhos".

Nilza era uma enfermeira dedicada que amava reunir a família e as pessoas que amava. Ela vivia gastando o dinheiro que tinha para ajudar pessoas, ajudava abrigos, idosos e animais. Semanalmente ela trazia para casa docinhos horríveis, mas ela comprava sempre para ajudar uma senhora que os fazia. Tinha as plantinhas dela espalhadas pela casa, e amava fazer seus kombuchas para doar a todos que a conheciam. A vida dela era essa, amar, cuidar, ajudar e doar.

Sua maior paixão eram seus filhos, seus netos, sua mãe, seu esposo e seus velhinhos, como ela os chamava “os meus velhinhos” que ela tanto amava e cuidava no hospital público do Tatuapé. Não dá pra contar a quantidade e itens de higiene pessoal que ela comprava e levava para o hospital para os pacientes ficarem “limpinhos e cheirosinhos”, ela falava com sua voz doce. Sempre faltou material naquele hospital, mas ela levava sabonetinhos, escovas, pasta de dente, shampoo, e creminhos hidratantes “pros meus velhinhos” ela falava. Cuidava dos velhinhos e fazia mini kits que entregava para os demais pacientes das outras alas do hospital.

"Tinha o hábito comprar coisas na “Voluntárias”, diversas coisas desnecessárias, que ela doava 'É que eles cuidam de tanta gente Stelinha, eles precisam desse dinheiro, por isso a tia compra, pra ajudar', falava com sua voz doce e ria, porque sempre era repreendida por gastar dinheiro toda semana com essas coisas, principalmente porque ela comprava para doar.", conta a amiga Stela.

Um anjo na terra, até parecia que ela não era da Terra, era anjo. Ajudava e fazia de tudo para todos, familiares, amigos, colegas de trabalho, amigos dos filhos. Cuidava de todos com muito amor e carinho. Em dias de folga ela ia para o hospital sem receber nada “tenho que cuidar dos meus velhinhos”, “tenho que cuidar dos meus pacientes”, “tem um paciente que ninguém tem paciência pra banho nele, a tia vai mas é coisa rápida, já volto”.

"Não foi feliz no primeiro casamento, no entanto ganhou quatro filhos queridos dessa união. Depois casou com Gilson, seu marido e alma gêmea, tiveram mais uma filha, Mariana. Ele foi pai de todos os filhos, marido amável e respeitoso. Foi um encontro de almas, nunca os vi brigando ou desrespeitando. Além dos filhos biológicos, ela teve a mim, a quem chamava de 'minha filhinha postiça', 'minha filhinha do coração'. Me viu crescer, ajudou na minha formação de caráter, me amou e amava a minha família.", relembra Stela.

Amava a todos, não parecia ser humana, era o puro amor e caridade do espírito santo. Sua vida foi dedicada a amar as pessoas, a cuidar das pessoas, e ela tentava ensinar a amar como ela, a perdoar como ela, e ter um coração puro como o dela.

Ela estava de férias e afastada do hospital, era grupo de risco. Não queríamos que ela voltasse a trabalhar, mas ela foi, “preciso cuidar dos meu pacientes”. Contaminou-se, foi internada, ficou em estado grave e nos deixou. Com amor, como o anjo que era, que mesmo sem precisar voltar ao trabalho, visto as necessidades do país e do Hospital Tatuapé, voltou a trabalhar estando de férias, queria garantir que seus pacientes seriam bem cuidados.

Nilza nasceu São Paulo e faleceu São Paulo, aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado amiga de Nilza, Stela. Este tributo foi apurado por Júllia Cássia, editado por -, revisado por - e moderado por Ana Macarini em 10 de abril de 2022.