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Noar Renato Klein

1939 - 2022

Muito conversador, bastavam alguns minutinhos na fila da lotérica para já começar a contar alguma história.

Ele se chamava Noar Renato, mas gostava mais de ser apenas Renato.

Casado por mais de sessenta anos, foi pai de quatro filhas, que criou junto com esposa sempre com muita honestidade, nunca se permitindo atrasar uma dívida sequer.

A neta Silviane conta que ele era a base da família que, além das filhas, contava com oito netos e dois bisnetos, de quem ele sempre confundia os nomes, mas nunca se esquecia de perguntar como cada um estava ou se estava precisando de alguma coisa. E caso alguém precisasse, ele sempre dava um jeito.

Ele era muito bondoso, dificilmente dizia um “não” e passou a vida buscando os netos onde quer que estivessem, em dias em chuvas ou de muito sol. Foram anos e anos de caronas e de viagens nas quais ele utilizava sua maior relíquia, um Del Rey de cor prata, sem nenhum risquinho, sempre bem cuidado e pronto para ir onde fosse necessário.

Apesar da idade tê-lo tornado ranzinza e teimoso, ele era amor que transbordava, sempre traduzido em preocupação com toda a família. Renato não sabia dizer e te amo com palavras, mas o fazia numa linguagem diferente: oferecendo “duzentos” tipos diferentes de comida enquanto se estivesse na casa dele.

Ele foi motorista de ônibus por mais de quarenta anos. Atravessou muitas estradas perigosas pelo Brasil afora, pelas madrugadas, amando o que fazia porque lhe permitia sustentar sua família.

Nas tardes de sábado, amava jogar dominó. Adorava ganhar livrinhos de caça palavras porque acreditava que ajudavam a manter a memória e ele nunca queria esquecer nada. Gostava de conversar e fazia amigos aonde quer que fosse. Bastava sair à rua que já via um conhecido. Quinze minutinhos na fila da lotérica e ele já estava contando alguma história!

Renato estava saudável e ativo aos seus 82 anos, não abria mão do banho frio mesmo durante os invernos rigorosos do Sul!

Nos últimos anos foi os braços e as pernas da esposa, sua eterna companheira. Todos os dias levava seu café na cama e fazia seu almoço. Ele era tudo para ela.

Noar nasceu em Taquara (RS) e faleceu em Porto União (SC), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Noar, Silviane Klein. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 9 de janeiro de 2023.