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Odario Alves Coutinho

1954 - 2020

"Deus o abençoe!" era a mensagem de fé e proteção que sempre dizia aos amados filhos.

Odario nasceu no interior do Paraná, e viveu a infância com os pais e os irmãos até os seus 12 anos, quando sua mãe faleceu após o parto do irmão mais novo. O pai então conheceu outra companheira, que já tinha quatro filhos, e constituíram uma grande família.

Na adolescência, Odario foi morar com uma tia em São Paulo que, diferente do pai, transmitia muito afeto ao sobrinho.

Em São Paulo, ele conheceu Isabel, sua companheira até a morte. Após o casamento, decidiram retornar ao Paraná, onde moraram com o pai e a madrasta de Odario.

Odario e Isabel tiveram quatro filhos que — segundo o filho Igor — receberam muito afeto. “A ausência da afeição do pai nunca o impediu de ser afetuoso com os filhos, pelo contrário, ele sempre buscou compensar essa ausência dando aos filhos todo o amor que podia”.

Odario trabalhou em uma cooperativa, que lhe permitiu garantir o sustento da família. Igor conta que eles precisaram morar de favor em alguns lugares, mas que depois tiveram acesso a uma casa habitacional, “muito simples, mas cheia de amor”.

Além da situação financeira difícil, a família passou por situações delicadas de saúde, tendo que enfrentar o alcoolismo e a depressão. Ainda assim, Igor recorda que “mesmo nos momentos difíceis, meu pai sempre trazia doces para nós na volta do trabalho. Ficávamos muito felizes”.

Mesmo com todas as adversidades, Odario estava sempre disposto a colaborar: “Ajudava na mercearia do meu avô, na lanchonete de um tio. Estava sempre ajudando... Era amigo de todo mundo, amava ficar na praça da cidade vendo o movimento. Então, todos o conheciam”, conta Igor.

Ainda que com poucos recursos, Odario buscou proporcionar aos filhos uma educação exemplar. “Desde que me lembro, ele sempre esteve por perto, atento e carinhoso, o que fazia dele esse homem sensacional”. E foi recompensado. O maior sonho de Odario era ver os filhos formados e bem-vestidos. Conseguiu ver um deles assim, o que foi motivo de grande orgulho para ele.

São muitas as lembranças dos filhos de momentos de gostosuras e travessuras com o pai. Uma delas é de quando Odario os levava para brincar nas praças da cidade: “Havia alguns brinquedos para crianças, 'playgrounds'. A alegria dele era nos ver alegres”, relata Igor.

Em uma festa de aniversário de uma das filhas, a família fez um bolo em casa e Odario comprou uma vela diferente, dessas com faíscas. Quando ele acendeu a vela, no meio do Parabéns, os filhos ficaram fascinados, pararam de cantar e repetiam: “Olha a velinha! Olha a velinha!” Então, o pai gritou: “Caaantaaaaaaa”. Até hoje a família se alegra ao lembrar desse evento.

Uma outra lembrança são os passeios de bicicleta. Odario sempre gostou de pedalar. Ia de bicicleta a todos os lugares, fosse a passeio, para compras ou trabalho. “Era o meio de locomoção dele”, sintetiza o filho. E assim, as crianças se divertiam: “Foi algo muito marcante na nossa infância. Ele andava com todos os meus irmãos em cima daquela bicicleta”.

A difícil condição da família impôs aos filhos a necessidade de começarem a trabalhar muito jovens para ajudar no sustento da casa. E, com as bênçãos do pai, os filhos encararam essa missão. “Sempre que meu pai nos encontrava, dizia: ‘Deus o abençoe!’ Inclusive foram as últimas palavras dele para mim”.

Com essas palavras especiais de bênçãos, Igor e a família se despediram de Odario e agora celebram a vida desse homem guerreiro, forte e muito amado.

Odario nasceu em Jaguapitã (PR) e faleceu em Maringá (PR), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Odario, Igor Nascimento Coutinho. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Stefanoni, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 22 de abril de 2022.