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Oscar Rodrigues da Costa

1926 - 2020

Cantava e dançava na sala de casa enquanto pedia por chuva para aliviar o calor.

Seu Oscar cresceu na Ilha de Marajó e contou as histórias da infância por toda vida. Relembrava dos búfalos e "dos bichos estranhos que comia", como define a neta Thaline. As comidas típicas da terra natal também estavam sempre na mesa em Brasília, cidade para a qual se mudou enquanto ainda estava sendo construída. "Era tudo lama quando ele chegou", descreve Thaline.

Era bom de garfo, principalmente com comida paraense. Amava frutos do mar, maniçoba, bobó de camarão... À noite, tinha a mania de "roubar" farinha de tapioca. Voava farinha para todo lado nessas aventuras da madrugada.

Pratos especiais acompanhavam-no para os jogos do time do coração, o Flamengo. Também era comum que os vizinhos e filhos tocassem e cantassem nos dias de Mengão em campo. O flamenguista roxo acompanhava a farra com alegria.

Ele nunca abandonou a música. Costureiro autodidata desde os tempos de Pará, costurou enquanto a visão permitiu. Cantava canções da Música Popular Brasileira (MPB) enquanto estava à máquina. Nos últimos anos, não saía de casa, mas continuou a cantarolar e dançar na sala.

A família tinha e tem várias peças costuradas por ele, principalmente bolsas. "Cada irmão aprendeu a fazer algo, para sobreviver, ele e uma irmã ficaram com a costura, não tinha quem ensinasse, mas os dois se ajudavam", conta Thaline. Em Brasília, além de costurar, ele também teve outros empregos.

Seu Oscar teve nove filhos e mais de 20 netos. Em sua trajetória, teve problemas por causa da bebida. Depois de um abalo na saúde, parou com o álcool e, a partir daí, as coisas mudaram. "Toda família o perdoou, ele tornou-se querido para todos. Foi uma pessoa que só melhorou com o tempo. Parou de beber pouco antes de eu nascer, então, sempre o vi ajudando a todos, era o melhor avô do mundo", conta a neta.

Ele reclamava do calor o tempo inteiro e sempre pedia pela chuva. Sabia de tudo que estava acontecendo, assistia muita TV. Na pandemia, ficou ansioso com tanta notícia ruim, restrições e precisou de ansiolíticos para ficar mais tranquilo. Em um das idas ao hospital, contraiu o vírus.

No entanto, será lembrado como o homem que mostrou seu lado bom, animado, que sempre cantou e dançou mesmo com tantas batalhas durante a vida.

Oscar nasceu em Soure (PA) e faleceu em Brasília (DF), aos 94 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Oscar, Thaline da Costa Valcacio. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 21 de maio de 2021.