1938 - 2021
Com a força de seus braços desbravou terras em Rondônia e fez de seu trabalho a maior prova de amor à família.
Oswaldino foi casado por cinquenta e nove anos e dez meses, e a forma como viveu com sua esposa foi o maior exemplo que eles deixaram aos seus descendentes; ensinaram como deve ser um casamento e como é importante servirmos às pessoas ao nosso redor.
A relação dos dois parece já ter nascido abençoada, uma vez que se iniciou em um culto, conforme relata detalhadamente a neta Yndyanara: “Eles se conheceram na igreja: o meu avô foi acompanhar um amigo, que estava interessado na minha avó. Entretanto, a minha avó ficou realmente interessada foi pelo meu avô”.
“No fim do culto, havia doces distribuídos em caixinhas de todas as cores. Então, a vovó se aproximou dos dois rapazes para entregar os doces. Para o amigo do vovô ela deu a roxa e para o meu avô, entregou a caixinha verde. Ela fez isso com o intuito de o amigo dele perceber que verde era a cor da esperança, e esta não tinha sido dada a ele. O rapaz matou a charada e falou para o meu avô que a moça que ele cortejava estava, na verdade, interessada era nele. De lá, meus avós foram embora conversando pela estrada, na frente dos meus bisavós, que vinham logo atrás.”
“Meu avô, que sempre foi muito correto, caminhou um pouco ao lado da minha avó e voltou para a igreja, para avisar ao amigo que ele realmente tinha razão, que a moça o havia mesmo escolhido. Depois disso, nunca mais se separaram.”
O namoro progrediu e, depois de casado, Oswaldino foi um marido que se dedicou por completo à esposa, estando sempre a postos para servi-la. Como homem do campo, que, desde criança trabalhou no arado, costumava levantar-se às 3h da manhã em seu sítio, para ordenhar as vacas e, posteriormente, realizar os outros trabalhos. Ele demonstrava amor assim: trabalhando. Dizia que todo o seu empenho compensava ao ofertar o conforto necessário à família.
Como pai, dedicou-se com afinco aos filhos. Encontrava a verdadeira felicidade tendo a companhia deles. Aos domingos, gostava de ir à igreja com todos. Depois, ao chegar em casa, eles se reuniam para o tradicional almoço, que sempre se esticava para conversas. Mais tarde vinha o seu soninho habitual, enquanto a televisão, que ele amava assistir, ficava ligada na sala.
Fazendeiro, Oswaldino vivia para o trabalho. Chegou em Rondônia quando realmente tudo ali era mato e abriu suas terras com a força dos seus braços. Teimoso, não gostava de pedir ajuda. Assim, plantou café e milho, cuidou de gado, levantou cercas — fazendo tudo sozinho.
Era um homem forte, de sorriso fácil. Fazia questão de cumprimentar as pessoas pelo nome. A família brincava que ele poderia facilmente se tornar político, pois sempre saía de bicicleta pela cidade cumprimentando todos que encontrava pelo caminho.
Sistemático em seus hábitos, cultivou um muito peculiar durante mais de vinte anos: comia todas as refeições com a mesma colher, sem aceitar trocá-la por nenhum motivo. Nunca deixou também de alimentar o sonho de voltar para Minas Gerais, para viver com a esposa mais perto da família dele.
Yndyanara demonstra um grande carinho ao falar de suas lembranças com Oswaldino:
“Meu avô era a pessoa mais animada que eu já conheci! No auge dos seus 80 anos, todos os dias andava de bicicleta para ir até a cidade e cumprimentava cada um que via pela frente. Foi ele quem me ensinou a andar a cavalo e a procurar mina de água no meio do mato. Por diversas vezes tentou tirar o medo que eu sentia das vacas, mas isso foi impossível.”
“Lembro quando disse a ele que amava o requeijão que ele preparava. Então, por dois meses, trouxe requeijão para mim todos os finais de semana. Fazia brincadeiras com todos os netos, fosse contando piadas ou levantando no ar os mais novos, como se fossem foguetinhos."
“Eu me recordo de quando ele resolveu me mostrar o cafezal que ele tinha plantado. Eu ainda era criança e ele me acordou às 4h da manhã para andarmos pelo sítio. Foi nesse dia que ele me ensinou como encontrar água de mina na terra usando um graveto. Naquele dia, tomei a água mais fresca e deliciosa que já bebi na vida.”
Ela conta com saudade que ele gostava muito da música "Naquela Mesa", interpretada pelo Nelson Gonçalves. Para ela, depois da sua partida, essa canção fez mais sentido do que nunca, especialmente no trecho que diz:
"Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã."
A esposa e a filha de Oswaldino também foram vítimas da Covid-19. Para conhecer um pouco da história delas acesse as homenagens a Regina Cunha Coutinho e Eudes Cecília Coutinho neste Memorial.
Oswaldino nasceu em Galileia (MG) e faleceu em Jaru (RO), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Oswaldino, Yndyanara Camargo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 7 de maio de 2023.