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Otília Fuckner

1934 - 2020

Ela tinha uma força interior incrível. Da varanda acompanhava e abençoava com o olhar cada despedida.

Apesar da saúde frágil, fazia tudo por todos. Sempre foi dona de casa e muito dedicada à família. Gostava de ouvir rádio e era ótima cozinheira.

Quando perguntavam a Otília como ela estava, sempre ouviam "Não tô boa!", mas mesmo assim ninguém podia sair de sua casa sem ao menos tomar um cafezinho e comer um pedaço de seu bolo, que ninguém consegue copiar, mesmo tendo a receita certinha. Era generosa e tinha prazer em receber bem e fazer esses agrados, mesmo não se sentindo bem fisicamente. Os mimos eram sempre em forma de conservas ─ as deliciosas geleias ─ ou bolachinhas caseiras maravilhosas, feitas por ela mesma.

Muito vaidosa, não podia ver fios brancos que já ia logo pintar os cabelos. Era cuidadosa com as roupas também e saía sempre bem-arrumada. Religiosa, cobrava dos seus: educação e respeito. A família estava sempre em primeiro lugar e, independente da situação, lá estava a matriarca para ajudar, dar um conselho e fazer o possível e o impossível por todos.

"Uma das coisas que mais me marcou é que ela ficava na varanda olhando até não nos ver mais na estrada. Eu me sentia sendo abençoada por ela no meu caminho, no meu dia... Ela falava constantemente que era muito realizada por ter uma família unida e feliz, por ter conseguido criar os filhos, ajudado a criar os netos e os bisnetos e por todos estarem sempre reunidos ao seu redor e do meu avô", conta a neta Cátia.

Telefonava para saber como estavam os familiares e queria visitas aos finais de semana, sempre. Isso a alegrava profundamente. Dona Otília era daquelas que não esquecia o aniversário ─ inclusive de casamento ─ de ninguém. A neta revela: "Não era aniversário até que a vó ligasse".

Casada com seu Alfredo, o último dia em que o casal esteve junto foi justamente quando completaram Bodas de Platina ─ 65 anos de casamento.

"Minha avó era especial, totalmente dedicada à família. Além de esposo, filhos, noras, netos, bisnetos, muitos familiares e amigos que gostavam muito dela, deixou uma história de dedicação que levarei para sempre comigo!", finaliza Cátia.

Otília nasceu em Campo Alegre (SC) e faleceu em Campo Alegre (SC), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Otília, Cátia Denise Fuckner Molmelstet. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 23 de fevereiro de 2021.